LONGE DE CASA
Por Isabelle Araujo!
Aqui eu compartilho minhas aventuras e experiências de viagens e da vida pessoal como imigrante na Europa, vivendo desde os dezoito anos longe de casa, da família e do país que nasci.
Estarei atualizando o blog sempre que houverem novas experiências ao longo da minha vida.
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Primeira vez longe de casa
Londres, Inglaterra
Era normal eu discutir com meus pais por não deixarem eu sair e prometer pra mim mesma que iria sair de casa assim que completasse meus 18 anos. Era meu sonho ser independente e não ter que dar satisfações de nada a ninguém, e foi exatamente em 2013, quando eu tinha meus 18 anos que terminei a escola e fui fazer meu primeiro intercâmbio em Londres, na Inglaterra. Eu vivia pesquisando sobre, e enfiava o tempo todo essa idéia na cabeça dos meus pais até eles aceitarem e me deixarem ir. Foi dificil, demorou um tempo para convencê-los. Eu fazia curso de inglês desde os meus 11 anos de idade, mas nunca levei a sério, na verdade, eu odiava as aulas e os deveres de casa, ia por obrigação e nunca dei valor aquilo, e foi com essa desculpa de que no curso não se aprendia nada e que eu teria que aprender na prática indo pra um país em que a língua oficial fosse o Inglês, que eu convenci meus pais a me deixarem ir. Meu sonho sempre foi conhecer Londres e nessa época eu já era muuito fã da cantora britânica Adele, o que me fez ter mais ainda a certeza de que era pra Londres que eu queria ir.
Comecei a dizer que queria ficar 6 meses, mas meus pais não aceitaram de jeito nenhum dizendo que era muito tempo, tive que negociar então para 4 meses. Fui a várias agências de intercâmbio na minha cidade e fechei com a que mais gostei. Resolvi todas as papeladas e documentações necessarias, e fiz tudo sozinha (o que ajudou a convencer meus pais, eu já chegava com tudo pronto e planejado, eles só precisavam pagar). Eu cheguei a combinar com várias amigas de irmos juntas, mas no final não puderam e achei que seria impossível meus pais me deixarem ir sozinha, mas de tanto eu chorar, implorar, mostrar o quanto eu queria e apresentar todos os benefícios, experiências e informações, eles deixaram. No início tive um medo de leve, óbvio, seria minha primeira viagem sozinha para outro país, num outro continente, com outra lingua, tudo diferente. Antes, eu só tinha ido a Disney, Nova Iorque e Portugal com meus pais.
Chegou o dia, e foi eu com duas malas mais pesadas do que eu pro aeroporto, e é óbvio que meus pais foram comigo ate Londres. Eles queriam ver tudo onde eu ia morar e estudar durante esses 4 meses, no final eu fiquei foi muito feliz por terem ido comigo, porque aconteceu o pior das hipóteses. Resumindo, eu paguei por uma residência estudantil (tipo albergue) e quando cheguei la me colocaram numa casa de família (o que eu não queria), muito longe do centro e de tudo. Óbvio que fiquei revoltada, mas não queria voltar atrás, queria ficar em Londres de qualquer jeito, mas a escola não encontrou outro lugar pra eu ficar e eu sem experiência nenhuma e falando um inglês muito básico (e meus pais menos ainda) eu VOLTEI PRA PORTUGAL, chorando, morrendo, desiludida, tipo fim do mundo pra mim.
Por eu já ter terminado a escola, consegui convencer meus pais de ficar em Portugal com nossos parentes, até conseguir ir pra Londres de novo, e eles voltaram pro Brasil. Em menos de uma semana eu já tinha pesquisado tudo e já estava com tudo preparado para ir de novo, dessa vez sozinha de verdade. E então começou a minha experiência de intercambista. Cheguei lá e já tinha tudo certo, o lugar que eu ia ficar, como chegar, etc.
Meus planos eram ficar em Londres durante 4 meses, voltar pro Brasil e começar a faculdade, mas com toda a confusão que deu, se passaram quase 2 meses e eu já havia feito o vestibular, por isso só pude ficar 1 mes e durante esse mês, consegui visitar outras cidades da Inglaterra como Bath, Oxford, Cambridge e Brighton (exatamente uma por final de semana). Pesquisava todas as informações necessárias, pegava um trem e ia, algumas fui sozinha, outras com amigas que fiz por lá, outras com o grupo do curso que estudei (Kaplan International College, na Leicester Square - MARAVILHOSO - recomendo. Tem pelo mundo todo. Os professores e os funcionários são exelentes, mantenho contato com todos ate hoje).
Apesar das dificuldades que tive no início, valeu a pena não ter desistido. Foram os melhores dias da minha vida. A minha primeira viagem completamente sozinha, a primeira experiência em ter que fazer minha comida e lavar minha roupa por necessidade e não por obrigação, poder sair de casa a qualquer hora sem precisar pedir ou avisar, dormir até tarde sem ninguém me acordar, faltar aula por causa da ressaca, ir em uma festa por dia ou até em varias numa mesma noite, sem hora pra voltar pra casa e sem minha mãe me ligando preocupada, conhecer centenas de lugares e pessoas de várias nacionalidades diferentes e até brasileiros com quem fiz amizades que duram ate hoje. É definitivamente um sonho de qualquer adolescente, e eu realizei!
E foi assim, a minha primeira vez longe de casa, quando tudo começou.
Londres, 2013
Faculdade longe de casa
Porto, Portugal
Acredito que esse seja o post mais esperado pelos que me conhecem e estão empolgados com o blog. Quase todos os dias vem pessoas me pedir dicas e perguntar como fiz, como consegui e o que é preciso fazer para estudar fora, etc.
Como eu disse no post anterior, comecei a minha faculdade de Relações Internacionais no Rio de Janeiro em 2013, logo depois que voltei de Londres. Nunca gostei (e sempre fui péssima) em exatas, por isso escolhi a área de humanas, na verdade, como acontece com muitos formandos, eu estava totalmente perdida e indecisa, terminando o terceiro ano e ainda sem saber o que eu queria fazer da vida, qual faculdade, qual curso... Certo dia escutei uma menina dizendo que iria fazer faculdade de Relações Internacionais, até então eu não fazia a mínima ideia do que era, na verdade acho que foi a primeira vez que ouvi falar desse curso, e podem achar que não, mas Relações Internacionais é recente e não tem muito tempo que as universidades começaram a leciona-las. Enfim, depois disso comecei a pesquisar sobre e me apaixonei pelo curso, por envolver história e geografia que eu amava, línguas, atualidades, e as próprias relações entre os países que sempre me interessou muito, e além disso, como a maioria dos estudantes de Relações Inernacionais, eu acreditava que o curso abriria as portas do mundo pra mim e eu viveria viajando com qualquer emprego que eu arrumasse nessa área, e até agora não me decepcionei com esse pensamento. Eu tinha acabado de voltar da minha primeira experiência de viagem e estava em depressão pós intercâmbio (acredite, isso existe, juro). Tudo o que eu queria era ter mais experiências como aquela.
Antes mesmo de ir pra Londres, eu já tinha começado a pesquisar as formas de ingresso nas universidades de Portugal quando vim de férias com meus pais pra cá. Por eu ter parentes portugueses, dupla nacionalidade e passaporte português, foi tudo bem mais fácil pra mim, não precisei tirar o visto nem nada, o único problema era que para eu entrar em uma universidade aqui, eu teria que fazer o exame nacional (tipo o ENEM deles), ou seja, eu teria que competir com estudantes que estavam muito melhor preparados do que eu, e como eu já havia feito o vestibular no Brasil e já havia passado para algumas faculdades no Rio, eu resolvi começar lá e depois pedir transferência, pois dessa forma eu não precisaria fazer nenhuma prova de ingresso, o que facilitou demais.
Depois de ter iniciado minhas aulas na ESPM do Rio, fui me apegando e me envolvendo com as pessoas, com os professores e com a própria faculdade, fiz grandes amizades logo nas primeiras semanas de aula e me apaixonei completamente por aquele rítmo maravilhoso como caloura, das festas, do trote, das viagens de turma, do inicio da vida universitária em sí, e isso ia fazendo com que a idéia de ir para outro país estudar fosse ficando pra trás. Cheguei a pensar em desistir e ficar ali mesmo, acreditando que poderia me arrepender se eu fosse, com medo de perder aquilo que eu estava ganhando e vivendo. Eu estava completamente em êxtase com o meu momento de caloura universitária (e quem não fica?!).
Ainda no primeiro período, depois das minhas primeiras péssimas notas nas provas por estar saindo demais, fazendo noitada demais, bebendo demais, viajando demais e estudando de menos (além disso, na ESPM tinha aulas de cálculos, economia e estatística, o que me desmotivou muito), meus pais começaram então a me pressionar e dar força para que eu fosse estudar fora. Eu já nem pensava mais nisso na verdade, e quando eles começaram a me lembrar o quanto eu queria e o quanto eu falei e pesquisei sobre, comecei a repensar a ideia.
Logo que terminei o primeiro período, pedi a transferência e me matriculei em uma universidade no Porto. Peguei todas as documentações necessárias, fui ao consulado para que fossem reconhecidas em Portugal e vim com tudo, com medo, mas vim. Outro fato que também facilitou muito a minha vinda, foi que meu pai havia comprado um apartamento em Aveiro (que fica a mais ou menos 60km do Porto, ou uma hora de trem) em uma das primeiras vezes que viemos de férias pra cá, e com isso não precisei alugar nada pra morar, o problema era só a distância, ter de ir e vir todos os dias de Aveiro para o Porto. Mas o que é uma hora no trem sentada (e as vezes até dormindo) pra quem estava acostumada com mais de uma hora no trânsito + barcas e ainda por cima no calor insuportável que já começava de manhã cedo de Niteroi-Rio, não é mesmo?!?!?!
Não vou dizer que foi fácil, que foi maravilhoso desde o início, porque não foi. Todo ser humano precisa de um tempo para se adaptar as mudanças, e mesmo eu sendo super desapegada com tudo e todos desde nova, eu também sofri. Chorei por dias, me senti sozinha, excluída, diferente das pessoas daqui, pensei em voltar, em desistir... Ainda faltavam 3 anos para me formar e eu já estava sentindo falta das minhas amigas, dos momentos que tive como universitária no Rio e dos finais de semana de farra e histórias que serão lembradas pro resto da vida. Era horrivel ver as fotos das amigas em uma festa que eu não fui, e os comentários nos grupos do wpp sobre momentos em que eu não estava presente.
A primeira coisa que senti muita diferença foi as pessoas. Não existe nada igual ao calor e a simpatia dos brasileiros no mundo, e eu já tinha aprendido isso quando fui a Londres, tanto é que fiz mais amizades com brasileiros no tempo em que fiquei lá. Estudar em Portugal e não conhecer ninguém, ser nova na turma e mal olharem pra você, foi uma coisa beeeem estranha pra mim, tinha acabado de viver o inicio das aulas em que fiz melhores amigas já nos primeiros dias, e essa diferença de tratamento me chocou e me fez sentir ignorada, e isso foi péssimo.
Logo no inicio que vim morar sozinha, vieram duas amigas do Brasil me visitar, e fomos a Paris juntas, foi a minha primeira viagem internacional com amigas, e foi incrível. Chorei mais um tanto depois que elas foram embora. Foi como se estivesse sendo arrancado uma parte de mim. Enfim, com o tempo fui me acostumando, tive que ir me afastando dos grupos, das notícias e fofocas de onde eu morava para conseguir me focar e viver a minha nova realidade, viver a escolha que tinha feito de um caminho diferente.
Hoje já mais do que me adaptei. Sou apaixonada pela Europa, por Portugal, pela tradição e pela história do país, pela qualidade de vida que se tem aqui, pelo clima e pelas facilidades em fazer e resolver qualquer tipo de coisa. Não penso em voltar pro Brasil nem tão cedo. Aprendi a viver com a saudade, e fiz amizades maravilhosas por aqui que também sei que as levarei pro resto da vida. Consegui ir para o Brasil durante as minhas férias, o que ajudou a matar a saudade do que fazia falta, e com isso percebi o quanto o Brasil é maravilhoso para os turistas, como uma que me tornei. Passei a visitar os lugares turísticos quando ia pra la que nunca tinha visitado antes, e me apaixonei completamente por essa vida longe de casa.
Trajetória acadêmica
Erasmus longe de casa
Varsóvia, Polônia
Para os que não sabem, Erasmus é um programa promovido pela União Europeia com o objetivo de encorajar e apoiar a mobilidade académica de estudantes e professores do ensino superior. O programa dá a oportunidade do estudante europeu ir para um outro país membro da UE, com direito a uma bolsa, para estudar ou trabalhar durante um período de tempo entre 3 e 12 meses. O programa deve o seu nome ao filósofo holandês Erasmus de Roterdão que viveu e trabalhou em vários locais da Europa para expandir e ganhar conhecimentos. E.R.A.S.M.U.S. é também uma sigla para European Region Action Scheme for the Mobility of University Students (ou, em português, Esquema de Ação Regional Europeia para a Mobilidade de Estudantes Universitários).
Quando eu estava ainda no início do segundo ano do curso em Portugal, ouvi falar nesse programa e comecei a pesquisar sobre, e me encantei. A oportunidade de ir morar num outro país da Europa me deixou mega empolgada, ainda mais em saber que teria direito a uma bolsa (que é oferecida a todos os que participam do programa). Quando fui escolher o país para onde queria ir, a minha universidade só me ofereceu duas opções das quais tinham parceria naquele ano, que eram Polonia ou Eslovenia, e eu escolhi a Polonia por ser um país maior, com uma história fascinante e também por ter um custo de vida mais barato, devido ao fato de não ter aderido ao Euro. Pesquisei tudo, preparei todas as documentações, fiz tudo o que era necessário e lá fui eu. Diversos colegas da minha turma também se interessaram, mas devido á atrasos e complicações nas documentações, não puderam ir, e assim fui eu sozinha mais uma vez ''de maluca'' para um outro país completamente diferente de tudo o que eu estava acostumada até então (a língua nem se fala né).
Escolhi ficar apenas um semestre, pois eu já estava no meu terceiro ano e queria terminar o curso em Portugal devido as festas tradicionais, a formatura junto da turma, etc. Cheguei na Polonia no meio de Setembro de 2015, depois de ter passado as minhas férias do meio do ano no Brasil, matando a saudade do calor, da familia e dos amigos, e fiquei ate Fevereiro de 2016 (Sim, eu sobrevivi ao inverno da Polonia).
Eu já estava acostumada com a vida de ir sozinha para lugares diferentes devido ás minhas experiências anteriores, por isso, dessa vez já não tive tanto ''medo''. Me joguei de cabeça e fui com tudo, super ansiosa e animada para a nova experiência que eu iria viver, além disso, o meu inglês já estava bem melhor do que quando fui pra Londres com 18 anos, então dessa vez eu estava super confiante. Alguns meses antes de ir, comecei a pesquisar quartos para alugar perto da universidade em que eu ia ficar e acho que esse foi um dos meus únicos problemas, pois a crise no Brasil já havia começado e eu estava dura, e devido ao fato de Varsóvia ser uma cidade grande e capital do país, os alugueis de imóveis não eram nada baratos. Enfim eu consegui alugar um quarto por 900 zloty por mês (mais ou menos 900 reais + despesas), num apartamento com mais outros dois quartos, que no tempo em que fiquei lá estavam morando dois polacos. Foi a primeira vez que dividi banheiro e cozinha com desconhecidos, tive sorte que eram pessoas tranquilas, mas no inicio estranhei bastante, o pior foi que eram homens, e eu não me sentia nada a vontade, mas com o tempo me acostumei. O apartamento ficava a 3km da universidade que estudei (Lazarski), eu ia para as aulas de metro, o que demorava menos de 20 minutos, e quando ainda estava um clima agradável, eu voltava de bike alugada pra casa (era de graça se fosse devolvida em até 1h. Eu amava).
Assim que cheguei em Varsóvia, comecei a pesquisar os lugares importantes e turísticos para se visitar, fazia uma lista de todas e as ia conhecendo. Logo na primeira semana, a universidade em que eu estava, organizou um encontro entre os alunos que vinham pelo Erasmus de outros países europeus para rolar aquela confraternização, e ali conheci as pessoas mais incríveis do mundo, com as quais fiz amizades que tenho a certeza que levarei pro resto da vida. Na confraternização, rolou jogos, encontros, palestras, cinema em casa, jantares, etc. Eu era a única Brasileira/Portuguesa no meio de Italianos, Franceses, Alemães, Romenos, e até Malteses, o que foi ótimo pra mim, pois desse jeito eu não tinha como me comunicar a não ser em inglês, já que ninguém ali falava português. Isso fez com que o meu Inglês ficasse ainda mais afinado depois de seis meses sem quase nunca falar o português. (Até me embolava quando mandava audio ou falava pelo facetime com amigos do Brasil, começava a responder em inglês, esquecia as palavras em português... Foi lindo).
As minhas aulas na Lazarski eram em inglês e a universidade ofereceu aulas de Polaco para todos nós, alunos de Erasmus, que vinham pro país sem falar nem entender nada. As aulas rolavam duas vezes na semana e eram as mais divertidas, pois era quando nós nos encontrávamos durante a semana e já deixávamos marcado o nosso programa pro próximo final de semana. O objetivo das aulas era nos ensinar o básico, para que não passássemos sufoco enquanto estivéssemos morando lá, até porque, nem toda a população da Polonia fala inglês, na verdade quase ninguem fala, só os mais jovens, e eu sofri de verdade quando ia ao mercado, ás lojas, aos retaurantes etc, mas no meio do semestre eu desisti das aulas porque aquilo era impossível pra mim (sério), e como eu tinha outras diciplinas mais importantes pra fazer, deixei o Polaco de lado (o que depois me arrependi um pouco, mas ok). Aproveitei também para voltar a estudar alemão, só que também não deu muito certo porque a professora não falava inglês e eu estava tendo que aprender alemão em polaco, o que foi péssimo, mas esse eu não desisti, pois eu já tinha estudado alemão anteriormente e já tinha uma noção da língua, o que fez com que não fosse tão impossível.
Os meses em que vivi na Polonia foram inesquecíveis e vou guardar cada segundo pra minha vida inteira. Foi uma experiência maravilhosa na qual eu acredito que todos deveriam viver. Todo final de semana eu arrumava uma maneira de ir visitar um outro país próximo, e o bom foi que arrumei amigas que me acompanhavam nessas trips todas, o que as tornaram ainda mais inesquecíveis. Nesses seis meses eu conheci Bruxelas, Bruges, Praga, Vienna, Oslo, e mais umas dez cidades da Polonia!!!!! Eu só queria viajar, voltava de uma já planejando a outra, e o mais maravilhoso foi que as passagens de bus pra qualquer lugar saindo de Varsóvia eram absurdamente baratas, e eu me hospedava sempre nos hosteis mais baratos do booking, isso fazia com que eu conseguisse ir pra tudo quanto é lugar ''perto'' dali, e o que também ajudou muito, foi que a moeda da Polonia estava valendo quase a mesma coisa que o Real, por isso, era como se eu estivesse vivendo no Brasil, só que com um custo de vida ainda mais barato, além disso, com a bolsa que recebi por fazer parte do programa, eu consegui pagar os cinco meses do aluguel do quarto em que fiquei morando, logo, todo o dinheiro que eu tinha era só para comer e viajar, já que eu não sou de comprar roupas, sapatos, ou qualquer outra coisa desnecessária, ou seja, fui a pessoa mais feliz da terra.
Peguei uma paixão indescritível pela Polonia e pela história desse país que é triste e fascinante ao mesmo tempo. As noites em Varsóvia eu não tenho muito o que dizer, se sai umas cinco vezes foi muito, a maioria das vezes combinávamos uma ''social'' na casa de alguém e iamos todos pra lá beber, jogar cartas, dançar, conversar e contar histórias da vida, o que eu particulamente prefiro mil vezes do que noitada. Além disso, eu preferia gastar o dinheiro em viagens do que em bebidas e boates, por isso eu só saia quando era de graça, ou quando todos iam e eu não tinha pra onde fugir, já que não queria ficar em casa.
Em relação ao clima, estava tudo lindo e maravilhoso até inicio de novembro, quando começou a esfriar de verdade e eu achei que não fosse aguentar, ainda bem que levei blusas e casacos apropriados para sobreviver lá, só tive que comprar uns cachecois mais grossos, já que eu só tinha lenços finos e isso não protegia nada meu pescoço daquele frio, e uma bota apropriada pra neve, pois as minhas eram de pano, que ficavam molhadas, e de couro que não esquentavam nada meus pés. O bom de Varsóvia é que não venta muito, por isso não foi tão dificil e o frio não ficava sendo insuportável, na verdade eu chorei de emoção no primeiro dia em que nevou. Foi o melhor dia da minha vida, ver as ruas, os carros, as árvores todas cobertas de neve, uma paisagem branquinha, completamente apaixonante, parecia que eu estava num filme, eu não queria ir pra casa, queria ficar na rua o dia inteiro admirando aquele momento que todo brasileiro sonha em ver e viver. Durante as noites em que eu não conseguia dormir de ansiedade, eu ia pro parque que tinha ao lado do meu prédio e ficava lá fazendo (tentando) boneco de neve, anjo na neve, enterrando meus pés, e esses tipos de coisa que toda criança faz, porque eu tava igual a uma.
O único fato ''chato'' de fazer Erasmus na Polonia, foi que todos os amigos que fiz recebiam visitas de amigos e familiares durante os meses que ficaram lá, e por minha familia e amigos estarem no Brasil, convivendo com a crise e com a mega distância entre Varsóvia e Rio, não tive o problema de não poder sair ou viajar com o grupo por estar recebendo visitas (hahahaha). Mas eu ainda quero poder voltar e apresentar a Polonia á todos que eu puder, e fazer com que muitos conheçam um dos mais incríveis e desenvolvidos (muitos acham que não, mas é) países da Europa e não muito conhecido pelos Brasileiros.
Polônia, 2015/16
Namoro á distância
Portugal - Brasil
São muitos os que dizem que não conseguiriam namorar a distância, que ''nunca daria certo'', ou que ''não duraria nem um mês'' devido ao tempo, saudade, carência, fuso horário e outros milhões de pontos negativos que temos de enfrentar. E eu era esse tipo de pessoa, com esse pensamento. A frase ''O amor não se planeja, ele simplesmente acontece.'' nunca fez tando sentido para mim. Tenho uma história bem bonita, já até pensei em transformar num livro ou filme, para inspirar outros casais e até emociona-los com a minha experiência, mas por enquanto vou tentar resumir aqui pra vocês.
Eu não vou dizer que é fácil, porque não é, nem um pouco. Para um namoro á distância dar certo, tem que existir muito amor e confiança acima de tudo, é querer ter a pessoa por perto, mesmo estando longe, é saber que ela pode fazer coisas que você jamais vai ficar sabendo, é querer compartilhar seu dia e sua rotina com ela mesmo que seja por mensagens, skype ou facetime, é fazer contagem regressiva para o próximo encontro, é viver olhando o calendario e os preços das passagens para programar os próximos dias juntos, é dormir ''junto'' pela webcam, é sonhar todo dia que estão perto, acordar e cair na dor da realidade. É chorar de saudade e achar que não vai aguentar a dor. É horrivel. O que me fez superar foi saber que um dia isso acabaria, que um dia estaríamos juntos sem mais despedidas, até eu terminar a faculdade em Portugal e voltar pro Brasil, e esse dia chegou.
Meu relacionamento já começou á distância, eu já estava alguns meses em Portugal e meu intercâmbio para Londres já estava programado quando eu vim ao Brasil na semana santa em Abril de 2013 para matar a saudade dos meus pais e das minhas amigas antes de ir viver minha aventura de morar um mês sozinha em Londres. Na minha última noite no Brasil, saí com minhas amigas, fizemos uma despedida, consegui juntar a maioria delas e fomos para uma festa. Eu já estava de malas prontas e sabia que no dia seguinte estaria indo para o aeroporto de volta a Europa e por isso queria viver aquela noite como se fosse a última da vida, tinha minhas amigas por perto e não tinha porque não viver aquela noite intensamente para levar comigo lembranças boas e histórias pra contar.
No dia da festa, uma das minhas amigas já tinha entrado em contato com o cara que trabalhava na boate que íamos, para pedir cortesia e o número dele ficou gravado no meu celular, caso precisássemos falar com ele mais tarde. Na hora da festa, chegamos e nos juntamos na entrada e lá estava o tal promoter para nos dar a cortesia. Ele foi simpático, cumprimentou todas nós, tirou foto da gente... Para mim, tinha sido a primeira vez que eu estava o vendo, mesmo tendo encontrado fotos minhas depois, em eventos públicos nas quais ele aparecia no fundo. Era um completo desconhecido pra mim naquela noite, mesmo que todas minhas amigas ja o conhecesse, algumas ja tinham até ficado com ele, outras tinham amigas que já tinham ficado com ele. Fomos apresentados, ele comentou sobre a minha voz (que é rouca) e fez uma comparação com a voz da ex dele, e eu achei o comentário bem desnecessário, já percebendo o jeito molherendo dele que todas já haviam comentado. Como minha cidade é pequena, é difícil sair pra qualquer lugar que seja e não encontrar um conhecido, e mais difícil ainda não conhecer alguém que tem alguma coisa para falar da vida de outra pessoa, e por esse cara trabalhar há muitos anos nessa boate, ele era bem conhecido e depois fui descobrir que até meu pais já sabiam quem ele era, menos eu.
Durante a noite, me diverti, bebi, dancei, aproveitei com minhas amigas minha última noite junto com elas, fiquei com outros caras e esbarrei com esse tal promoter algumas vezes por lá, ele de vez enquando nos oferecia bebida e ficava perto da garota que ele estava ficando, uma amiga da minha amiga, até que elas sumiram e eu já estava bebada o suficiente para ficar andando atras delas, então minha melhor opção foi sentar e esperar que elas aparecessem. Enquanto estava sentada, vendo tudo rodando, sentindo aquela sensação maravilhosa de não estar sóbria, escuto uma voz no meu ouvido, dizendo que tinha gostado de me ver dançando com minha amiga e se eu queria ir para outro lugar com ele, sem pensar duas vezes e sem nem ter dado tempo de raciocinar quem era o cara, eu fui....... Alguns muitos minutos depois eu voltei, encontrei finalmente a minha amiga que tinha sumido antes de mim e ela estava me procurando tanto quanto eu a procurava e em estado de choque eu contava pra ela ''amiga, eu fiquei com o promoter''. Ela sem reação e tão bebada quanto eu, não fez nenhum comentário relevante, logo depois fomos embora. Depois de um tempo fui descobrir que ela também tinha ficado com ele naquela mesma noite.
No dia seguinte eu fiquei com aquela ressaca maravilhosa, as lembranças e comentários com as amigas não paravam e eu aos poucos ia me lembrando dos flashbacks da noite anterior. Terminando de arrumar minhas coisas para ir para o aeroporto, encontrei um mega machucado na minha canela e eu não fazia ideia de como eu tinha me machucado alí, minhas amigas também não sabiam como eu tinha feito aquilo, então resolvi mandar mensagem pro tal promoter, talvez ele soubesse como eu tinha me machucado, começamos uma conversa que não terminou mais, ele disse que me machuquei quando estava com ele e começou a me contar coisas da noite anterior que eu não tinha nem sombra de lembrança. Eu só ficava rindo muito de como a vida era louca. Contei pra ele que estava indo embora, ele salvou meu número e desde então não paramos mais de nos falar.
No período em que fiquei em Londres, nosso contato ia se estreitando, passamos a nos falar todos os dias, contávamos um pro outro sobre nossas vidas, nossas histórias, nossos hobbies, nossos planos e nosso dia a dia. Eu contava para minhas amigas sobre a gente e elas diziam que eu não deveria me apegar a ele, pois ele era mulherengo e tratava todas iguais, que eu não deveria me envolver com ele, etc. Isso era a última coisa que eu queria, estava em Londres, ia começar a faculdade em Portugal e não pretendia voltar pro Brasil nem tão cedo, queria construir minha vida na Europa, casar com um Inglês, ter filhos europeus, e me envolver com um cara que trabalhava na noite, pegava todas e era conhecido por ser mulherengo não estava nos meus planos.
O tempo só foi nos aproximando, mesmo longe, já não tinha um dia que ficássemos sem nos falar, ele chegou a mandar mensagem dizendo que me amava, eu o achei um louco, carente, que tava provavelmente mandando aquela mensagem pra mim e pra várias outras mulheres. Mas eu ia deixando rolar, gostava de conversar com ele, até que chegou o ponto em que eu estava ansiosa para voltar pro Brasil e o reencontrar. Dois meses depois voltei, foi estranho, tinhamos tanta intimidade pelas mensagens quando estavamos longe e quando nos vimos fiquei travada, não foi como eu esperava e provavelmente pra ele também não. Depois disso fiquei seis meses morando no Brasil fazendo um período da faculdade antes de pedir transferência para Portugal e durante esses meses a gente ia se apegando cada vez mais, saíamos juntos, conversávamos sempre, mas não assumíamos nunca o que tínhamos, nem pros outros nem pra nós mesmos, até que chegou o final do ano e eu fui para Portugal, fiz a transferência da minha faculdade e levei as documentações necessarias para começar as aulas em Fevereiro, foi quando começamos a sentir que aquele sentimento estava pesando, as mensagens já eram enviadas com uma certa dor da saudade, já estávamos sentindo falta um do outro.
Antes da faculdade em Portugal começar, eu fui mais uma vez ao Brasil pegar alguns documentos que estavam faltando e foi aí que ficou mais tenso, minha decisão de ir estudar fora começou a enfraquecer, meus sentimentos começaram a falar mais alto, eu não queria mais ir embora, eu não queria mais ficar longe dele, eu queria estar com ele por perto, mesmo que soubesse que talvez jamais teríamos um relacionamento sério ou que talvez jamais assumíssemos o que tínhamos, ou eu achava que tínhamos. Eu sabia que não deveria desistir dos meus planos e dos meus sonhos por um cara doze anos mais velho que eu, com fama de galinha, que entrou de maluco na minha vida e fez uma bagunça, mas eu queria estar com ele, como amigo, como amante, como companheiro ou como nada, não me importava, só queria ter ele por perto.
Chegou a hora de nos despedirmos, eu escrevi uma carta enorme pra ele, dizendo pela primeira vez meus sentimentos verdadeiros em relação ao que tínhamos, e ele retribuiu aquele carinho e aquela declaração, deixando tudo mais difícil. Mesmo eu querendo desistir de ir embora, meus pais, óbvio, não permitiram, e eu fui. Nunca tinha chorado tanto na minha vida, eu senti como se o mundo estivesse desabando, como se fosse o fim da vida, como se eu tivesse perdido alguém importante pra mim, eu senti falta de ar, dor no peito, eu não queria ir, meus pais ficaram preocupados, fui a viagem inteira sofrendo, com dor de cabeça de tanto chorar, cheguei em Portugal e só chorava e tudo era um motivo: a saudade das amigas, a saudade dos pais, o fato de estar sozinha em outro país... Mas o real motivo era ele.
Durante os primeiros meses ficávamos nos falando por mensagens, até que eu já não aguentava mais aquela vida de estar longe e ficar sofrendo por algo que não tinha e nunca teria e por alguém que não era meu e nunca seria. Resolvi dar um basta naquele contato que tinha com ele, exclui ele das redes sociais, exclui o numero dele, falei pra ele que era melhor que não nos falássemos mais pois eu estava longe e não sabia quando voltaria e que não tínhamos nem previsão de quando nos veríamos de novo.
Esse ''break'' durou três meses, até um de nossos amigos em comum ir me visitar e passar as férias comigo, assim, ele ficava vendo fotos nossas juntos, das nossas viagens, e logo começou a mandar mensagens para esse nosso amigo, e meu coração amoleceu na hora. Mesmo assim tentei continuar afastada. Quando nosso amigo voltou pro Brasil, eles se encontraram, ele perguntou da viagem, perguntou de mim, falou do relacionamento que tínhamos e da saudade que sentia e nosso amigo me contou. Naquele mesmo momento eu queria enviar uma mensagem e o dizer o quanto eu também sentia saudade dele, de conversar com ele, de falar sobre tudo, mas resisti, até que ele veio até mim, enviou mensagens pelo facebook e eu ignorei por um dia, até ir falar com ele como se nunca tivessemos parado de nos falar, perguntando quando ele ia me visitar.
Depois disso nunca mais paramos de nos falar, no mesmo dia ele comprou a passagem para Portugal para ir me visitar e algumas semanas depois ele me pediu em namoro, isso mesmo, estávamos há três meses sem contato nenhum, uns cinco meses sem nos ver e alguns dias depois de trocarmos mensagens, ELE ME PEDIU EM NAMORO e eu aceitei. Tive medo, achei loucura, minhas amigas foram completamente contra, me chamaram de maluca, algumas até pararam de falar comigo, meus pais mais ainda, recriminaram e reprovaram, todos criticaram, só vinham falar o quanto eu iria me arrepender, que isso não ia dar certo, que eu iria sofrer, que ele não era um cara bom para se envolver, para namorar, muito menos á distância, não era bom pra mim, era muito mais velho, etc. Mas mesmo assim eu disse ''sim'' e nos convencemos que faríamos dar certo, que conseguiriamos fazer com que durasse, que confiariamos um no outro e que contariamos tudo um pro outro, até porque acima de tudo éramos amigos e só a gente sabia o quanto queríamos que dasse certo, o que sentíamos um pelo outro e o quanto queríamos ter um ao outro.
Hoje eu posso dizer que foi uma das mehores loucuras que já fiz, a vida nos proporciona coisas que jamais planejamos, ele mudou meus planos, pra melhor. Eu não desisti dos meus sonhos, ele passou a fazer parte de todos, ele é e sempre foi o que mais me apoia nas minhas decisões, mesmo quando estava longe.
Eu conseguia vir ao Brasil durante as minhas férias no meio do ano e no final do ano, e ele conseguia ir no meio desses períodos, ficávamos geralmente dois meses longe, até o proximo encontro. A primeira vez que ele foi me visitar foi bem estranha, já estávamos namorando há quase dois meses e ainda não havíamos nos visto pessoalmente, nem nos tocado, nem nos beijado. Já tinham mais de seis meses que não nos víamos, e da ultima vez, nós tinhamos nos despedido um do outro como se nunca mais nos veríamos. Seis meses depois nos reencontramos na europa com um relacionamento assumido. Fiquei tímida, sem reação, sem saber o que dizer, sem saber o que fazer, mesmo que por mensagens nos falássemos o tempo todo. A timidez passou cinco minutos depois que nos beijamos e no segundo dia já parecia que nunca tínhamos ficado longe um do outro, parecia que já namorávamos há anos e que nunca tínhamos ficado sem nos falar.
O primeiro um ano e meio de namoro foi inteiro assim, á distância, ele indo, eu vindo, dois meses longe, um mês juntos... Facetime, skype, mensagens o dia todo, noites sem dormir de tanta saudade, contando os dias e minutos para o próximo encontro... Choradeira no aeroporto em cada despedida, uma despedida mais dolorosa do que a outra, e a ansiedade de chegar o dia em que eu terminaria minha faculdade e poderia voltar pros braços dele sem ter que nos despedir de novo. Sempre que ele ia me encontrar fazíamos uma viagem juntos pela europa, o que tornava nossos reencontros cada vez mais desejados e inesquecíveis.
Chegou o dia, terminei a faculdade, me formei, comprei minha passagem de volta pro Brasil, ele foi me buscar no aeroporto de terno e tudo, nos abraçamos e começamos a viver os primeiros dias de ''pra sempre juntos''. Hoje estamos noivos, morando juntos, com casamento marcado, e passagem comprada para irmos viver em Portugal, prestes a realizar nosso maior sonho de pegar um avião pra Europa juntos, sem a despedida dolorosa no aeroporto e sem o receio de ter que ficar mais alguns meses longe um do outro.
Eu mudei, ele mudou, nos tornamos pessoas melhores um com o outro, amadurecemos nossos pensamentos, assumimos pro mundo nosso amor, aprendemos a nos respeitar, a nos entender e a preservar o que mais importa pra nós, o nosso amor, que sem querer cresceu, superou a distância, as dificuldades, os fuso-horários, os comentários maldosos, o nosso passado, as nossas dúvidas e os nossos medos. E pra quem acha que namoro a distância não dá certo, eu só tenho a dizer que: Se é amor de verdade, vai superar e seu maior desejo vai ser realizado se você acreditar, confiar e cuidar, assim como aconteceu comigo.
Inicio do namoro, 2014/15
Definitivamente longe de casa
Aveiro, Portugal
Depois de alguns meses sem escrever, aqui estou eu novamente, cheia de novidades e a primeira é: CASEI. Sim, eu sei, quem diria? Pois é! Mas a segunda e mais importante é: trouxe o marido pra longe de casa junto comigo. SIM. Eu tão apaixonada ao ponto de casar e ele tão apaixonado ao ponto de largar tudo e se jogar nesse mundão junto comigo, e sério gente, tem coisa melhor do que isso? Começar a vida do zero, em um lugar diferente, num país diferente, com uma cultura diferente, num continente diferente, podendo trabalhar com o que quiser e ser quem você quiser... Ninguém acreditava que ele sairia de onde nasceu, cresceu e se enraizou. Diferente de mim, ele só foi viajar pra fora do país depois de ''velho'' e nunca tinha ficado tanto tempo longe de casa, a não ser quando vinha me visitar quando namorávamos e eu ainda estava na faculdade. Por ele ser mega conhecido na nossa cidade, ele tinha milhões de facilidades e contatos principalmente, o que faria qualquer pessoa pensar muito bem antes de largar tudo. Anyways, ele veio! Depois de eu ter deixado bem claro que não queria voltar pro Brasil nem pra viver, nem pra trabalhar e muito menos pra construir uma famiília, ele concordou e não me deixou escapar! O amor é lindo, eu sei! rs
Antes mesmo de eu ir pro Brasil, ele me disse que tinha saído do trabalho, e eu fiquei bem confusa, pois tinha me formado e estava indo pra lá, e ainda não tinhamos nenhum plano concreto. Foi aí que ele começou a dizer que viria pra Portugal viver comigo, que deveríamos nos casar e sair do país definitivamente. Não acreditei que ele estava falando sério, muito menos que ele viria mesmo. Era tudo o que eu queria, tudo o que eu sonhava. Não queria mesmo voltar pro Brasil pra ficar, e o estado do país em relação a crise política, social e financeira com certeza me ajudou a manter esse pensamento.
Depois que terminei a faculdade, fui pro Brasil, mas só fiquei lá por 8 meses, trabalhando pra juntar dinheiro pra vir embora de vez, assim como ele, que começou a trabalhar temporariamente como sócio de um restaurante japonês. Logo que cheguei, começamos a correr atrás de informações e documentações, e concluímos que realmente, pra ele vir morar em Portugal e se manter legal, a melhor opção era mesmo que nos casássemos, pois eu tenho nacionalidade Portuguesa devido a antecedentes e já tinha morado aqui por 3 anos durante a faculdade. As outras opções eram visto de trabalho ou visto de estutande, que não era bem o que ele precisava, e também não era mais fácil.
Então casamos, num domingo de Dezembro, no jardim de casa, com uma festa simples e irada, cheia de amigos e familiares queridos, com uma cerimônia emocionante, com um vestido simples e perfeito e com direito a dança na chuva descalça e descabelada no final da festa. Pegamos os documentos necessários para registrar o casório posteriormente em Portugal (certidão de nascimento dele e certidão de casamento, ambos em inteiro teor e apostiladas em cartório de notas), compramos as passagens, que era pra ser só de vinda, mas por incrível que pareça a ''ida e volta'' estava saindo mais em conta, então as compramos, acreditando que conseguiríamos adiar depois a volta, porém quebramos a cara, pois pra adiar uma passagem comprada na Decolar.com é uma dor de cabeça. O bom, foi que pra ele entrar no país como turista ele tinha que mostrar a passagem de volta pra não ser barrado na imigração e graças a Deus nós a tínhamos! Então viemos embora e a passagem de volta nós perdemos. Mas e daí né? A gente tava na Europa! Ahh, e mais um detalhe: fizemos uma escala de 8 horas em Frankfurt na Alemanha, por termos vindo pela companhia aérea Lufthansa, o que foi ótimo, pois conseguimos sair do aeroporto, ir almoçar e conhecer a cidade (mais uma pra lista),
Chegamos em Portugal, meu tio que estava vivendo aqui foi nos buscar no aeroporto, viemos pro apartamento do meu pai, onde eu já morava durante a faculdade, deixamos as malas, e alguns dias depois partimos pra nossa lua de mel, que eu já tinha planejado antes mesmo de casar rs. Ficamos por uma semana em Dublin na Irlanda e em Edimburgo na Escócia, em pleno mês de Fevereiro, frio do carai.. Mas óbvio que valeu a pena! Que lugares lindos e encantadores! O que eu mais gostei? Edimburgo! (Sou suspeita em falar do Reino Unido). Conseguimos tirar um dia pra conhecer a Irlanda do Norte também, porque por acaso (ou pelo mundo ser pequeno mesmo) encontramos alguns conhecidos em Dublin e rachamos o aluguel de um carro e a gasolina pra conhecermos mais um pouquinho da ilha, e assim fomos a Belfast, Giants Causeway e Dark Hedges (cada um mais encantador que o outro).
Depois da lua de mel, voltamos pra Portugal e começamos a vida de verdade. A vida de casados, a vida longe de casa definitivamente, a vida de pagar contas.
Fomos na conservatória que é tipo o cartório daqui e registramos nosso casamento, mas só pra deixar de ser perfeito, faltou um documento, pois devido ao fato de termos casado com separação total de bens, tínhamos que ter trazido a tal habilitação que comprovava isso do cartório em que casamos, e não sabíamos, logo, nossos planos de resolver tudo rápido foi interferido. Só tínhamos 3 meses para conseguir tirar a permissão de residência dele por agrupamento familiar, por ele ter entrado como turista, e por nós termos preferido resolver essas burocracias aqui ao invés de resolver no Brasil antes de vir, até pelo pouco tempo que tínhamos já que resolvemos vir em Fevereiro, e principalmente pela agilidade, porque sabe como as coisas funcionam no Brasil né? Não funcionam. Então tive que pedir a minha mãe pra pegar essa tal habilitação no cartório e mandar do Brasil pra cá, o que levou quase duas semanas pra chegar e foi o olho da cara! Sério, quase 100 reais um documento registrado, aff que roubo! Assim que chegou, voltamos na conservatória e finalmente registramos o casamento. Mas calma, entre registrar o casamento e ele poder viver e trabalhar aqui legalmente tem uma longa lista de coisas pra fazer antes.
O segundo passo foi ir nas finanças e passar o meu endereço oficial pra cá. (ou morada, como eles dizem). O terceiro passo foi conseguir um emprego, que graças a Deus eu consegui rápido, em menos de duas semanas após a lua de mel eu já estava empregada, fui em quatro entrevistas e três me chamaram, logo, pude escolher a que eu mais gostei. E essa conversa que o povo fala que Portugal ta em crise e não tem trabalho, é mentira. Tem muito trabalho, o que não tem é gente querendo trabalhar e sim querendo emprego. O terceiro passo foi pegar o atestado de habitação na junta da freguesia, que é um documento que consta o meu endereço e que prova que eu resido aqui. O quarto passo foi esperar receber o primeiro salário pra ter o recibo de vencimento (ou o contra cheque, como dizemos) pra poder levar no SEF (Serviço Estrageiro e Fronteras) e dar entrada no visto dele. Ou seja, depois de 1 mês. A nossa sorte foi que, ele não conseguiu ficar parado e logo conheceu um brasileiro que já estava aqui ha anos e começou a trabalhar com ele, com jardinagem, sem exigir nenhuma documentação. O que foi ótimo, pois ele por ser hiperativo não estava aguentando ficar em casa enquanto eu ia trabalhar. E acredita que o trabalho é melhor que o meu? Ele não gasta com gasolina, não gasta com comida, e ainda recebe por dia! Mas é trabalho braçal, trabalha de verdade.. haha
Então em 1 mês aqui, nós ja estávamos trabalhando e recuperando o dinheiro que gastamos na lua de mel, rs. Logo assim que eu recebi, juntamos os documentos necessarios e fomos ao SEF, (tivemos que agendar antes de ir) no mesmo dia, depois de alguns minutos, saímos de lá com o documento dele feito, a permissão de permanência, ou visto de residência, que seja. Agora ele pode viver em Portugal e trabalhar legalmente durante 5 anos, sendo que depois de 3 anos de casados ele já tem direito a tirar a nacionalidade Portuguesa também, podendo assim ir viver comigo pra qualquer outro país da Europa depois que enjoarmos daqui, rs.
Arrumei alguém pra viver longe de casa junto comigo. Preciso de mais o que?
Casamento
04 de Dezembro de 2016
Lua de Mel
Estágio longe de casa
Malta, Europa
E pra quem achou que depois de casada eu ia sossegar (como eu mesma pensei)... FAIL haha. Estava eu em um emprego temporário numa fábrica pra poder sobreviver a vida adulta onde os pais não bancam mais a gente, e procurando estágios para obter mais experiências antes de conseguir um emprego na minha área de RI e eis que encontro um anúncio de um estágio em Malta, por 2 meses. Na hora não pensei duas vezes! O coração começou a pular de felicidade e ansiedade, já me imaginando morando em Malta (porque eu sou dessas), mas ai lembrei que eu estava casada, morando em Portugal com o marido, longe da familia e dos amigos do Brasil, tendo uma vida de adulta e não sendo mais bancada pelos pais, o que dificultou um pouco porque o estágio não era remunerado (mas o que vale é a experiência né?!). Pra minha maior alegria e empolgação, eu tinha uma amiga Maltesa que conheci na Polônia na época do Erasmus e nós ficamos muito amigas mesmo, nunca perdemos o contato, e quando falei com ela sobre o estágio que vi, ela ficou mega empolgada e de cara já disse que eu poderia ficar na casa dela! OPA, já não ia precisar pagar aluguel de um quarto ou de um apartamento se eu fosse (o que no verão em Malta fica bem complicadinho pra encontrar). Ai chegou a parte de falar pro marido. Qual seria a reação de um marido que vive indo atrás de você, que largou o Brasil pra vir morar em Portugal com você e agora você vai ''largar'' ele pra ir morar em Malta por alguns meses? rsss Complicado né? Mas pra minha sorte, acima de tudo, eu tenho um companheiro e um amigo que me apoiou e me incentivou sem pensar duas vezes, mesmo sabendo que não seria nada fácil ficar longe mais alguns meses DE NOVO, e mesmo eu tendo prometido pra ele que depois de casados nunca mais iriamos ter que passar por um relacionamento a distância de novo KKKKKK triste, eu sei.
Mandei meu curriculo pra vaga do estágio, fiz minha candidatura e fiquei esperando morrendo de ansiedade, até que me enviaram um email falando que gostaram do meu cv e marcaram uma entrevista via skype e eu já enlouqueci. Eu nunca tinha feito uma entrevista de emprego online antes, muito menos em inglês! E não falava inglês á séculos, desde quando voltei da Polónia, nunca mais precisei, achei que eu tava enferrujada, que não ia conseguir, a paranóia bateu forte, até que chegou o dia da entrevista, eu me tremia toda de nervoso. Marcaram pras 16h e as 16h em ponto meu skype tocou. Atendi, pra minha alegria era só por voz e não ligaram o vídeo, o que foi perfeito pra disfarçar minha cara de insegura. Depois de algumas perguntas e respostas minhas (que pelo incrível que pareça, achei que fui super bem), eles disseram que me dariam uma resposta por email ''soon'', e eu quicando de ansiedade. No dia seguinte recebi um email dizendo que fui ''aprovada'' pra uma segunda fase, uma segunda entrevista com a supervisora do time que eu ficaria. Ai eu já tava mais segura, quando me ligaram eu já estava mais solta, falei sem medo e me adoraram. Antes mesmo de desligarem disseram que eu tinha sido aprovada pro estágio e que era pra eu enviar as datas que eu poderia iniciar e terminar. Foi uma sensação tão boa, eu queria começar amanhã! Ja posso arrumar as malas?
Isso tudo foi em Março, então resolvi começar o estágio em Junho, pois assim eu teria dois meses para trabalhar em Portugal e juntar dinheiro pra levar comigo e sobreviver em Malta, e também pegaria o verão lá (já imaginando minha vida na praia todo dia). O dia foi chegando, o coração foi apertando de ter que se despedir mais uma vez do meu mozi, tendo prometido que nunca mais passaríamos por isso, foi brabo! Mas antes mesmo de ir, já vimos as passagens pra ele ir me encontrar quando eu terminasse o estágio, e também pra eu vir vê-lo entre esses dois meses, então basicamente só ficamos um mês sem se ver. Ao mesmo tempo que eu estava com o coração apertado, a ansiedade tomava conta de mim, eu falava com a minha amiga maltesa todos os dias e sonhava toda noite com o dia em que chegava lá.
Chegou o dia... Malas prontas, seguro de saúde obrigatório pelo estágio na mala, coração apertado, corpo cheio de ansiedade e felicidade, a difícil despedida do mozi no aeroporto, algumas lágrimas, uma escala chata de 4h em Barcelona, (não tinha vôo direto de Porto pra Malta) e enfim cheguei! Melissa (minha amiga maltesa) me esperava com o carro do lado de fora do aeroporto, quando a vi que a ficha caiu, sai correndo pra abraça-la... Eu tava realmente ali! Foi lindo ter reecontrado ela depois de dois anos! Fomos pra casa dela, já era bem tarde e eu estava morta, e ela acordaria super cedo no dia seguinte pra ir trbalhar, então ela me deu todas as orientações necessárias e fomos dormir. Cheguei lá no dia primeiro de Junho, mas meu estágio só começaria no dia cinco, logo, tive alguns dias para conhecer Malta antes de começar a rotina do estágio, o que foi ótimo, pois tive tempo pra me entender com os transportes públicos de lá (que por sinal são bem caros e com um serviço não tão bom quanto no resto da Europa), consegui fazer o cartão para ter desconto nos ônibus, o que foi mais lindo ainda, pois eu não estava com dinheiro pra esbanjar. O custo de vida em Malta é teoricamente barato relacionado ao resto da Europa, mas não tão barato quanto Portugal, o que foi triste pra mim.
O primeiro dia de estágio foi bem cómico. Fui até o endereço que tinham me enviado, cheguei lá e não tinha ninguém me esperando, era um prédio sem recepção, abriram o portão, fui até o andar do escritório e tinha um cara no corredor aparentemente italiano e quando fui pedir informações a ele, o cara ficou tentando se comunicar comigo em Italiano e eu fiquei tipo... hummm KKKK ''não ta funcionando amigo!'' Até que fui me atrevendo a entrar na porta que estava aberta, vi o interior do escritório pela porta de vidro, várias pessoas em suas mesas trabalhando, passei direto e cheguei numa cozinha onde tinham alguns garotos e de cara eles já me perguntaram se eu era ''a garota nova'', e disseram que eu tinha que esperar a hora da troca de turno pra falar com a supervisora. Resumindo, deu tudo certo, a supervisora era uma venezuelana MUITO simpática, a pessoa mais amarosa e fofa do mundo (eu literalmente me apaixonei por ela) que já estava morando em Malta ha 3 anos. A empresa era BEM internacional, tinha gente da Europa inteira e eu AMEI isso! Nosso trabalho era basicamente ligar para nossos países (além dos Estados Unidos) e oferecer os produtos da empresa, fazer contato e divulgação, bem telemarketing mesmo, o que me desanimou bastante depois de algumas semanas, pois afinal não tinha muito a ver com a minha área de RI, eles só precisavam de mim porque eu falava português e assim poderia ligar pra empresas brasileiras pra fazer negócio. Se eu conseguisse vender alguma coisa eu ganhava comissão, cheguei a receber vários requerimentos durante esses dois meses, mas nenhuma venda fechada (o povo brasileiro é muito desconfiado! aff). Foi dificil, e chato na maior parte das vezes, mas o clima e as pessoas do trabalho davam uma amenizada na monôtonia do trabalho. A galera era muito animada e engraçada, o tempo todo tínhamos incentivos, (ganhei 30€ em um deles) brincadeiras, reuniões, ás terças era o dia das frutas e as sextas saíamos mais cedo e tinhamos direito a uma cerveja de graça num bar que era perto da minha casa, o que foi maravilhoso! Geralmente depois desse ''beer friday'' a galera ia toda junta pra noitada, mas eu como uma mulher casada, recatada e do lar, depois de uma cerveja eu ia pra casa KKKKK
Aos finais de semana eu ia rodar por Malta com a Melissa que tinha carro e várias amigas, o que foi ótimo, pois eu convivia com o povo internacional durante a semana e aos finais de semana eu estava com a galera realmente Maltesa e pude conhecer e conviver um pouco com a cultura e costumes do país. Malta na verdade é um arquipélogo com algumas ilhas onde as principais são Malta (a maior e principal), Gozo (a segunda maior) e Comino (onde só tem uma familia morando, e só é famosa por causa da Blue Lagoon - onde tem a água mais azul que você vai ver em toda a sua vida). Uma outra amiga nossa que conhecemos na Polonia durante o Erasmus, veio nos visitar e foi um reecontro lindo. Ela é francesa e eu já tinha a reencontrado quando fui a Paris com meu marido, mas quando disse a ela que estaria em Malta por dois meses ela não perdeu tempo e comprou logo a passagem pra ir, aproveitando pra conhecer Malta e nos reecontrar.
Alguns dos pontos turísticos mais famosos de Malta tem que se pagar, como o Blue Grotto (8€ - bem carinho na minha opinião) mas o lugar é algo surreal e imperdível! Então essas coisas eu deixava pra ver quando o marido viesse, pois assim eu só gastava dinheiro uma vez e veríamos juntos. Fiquei rodando pelas praias de Malta e acredito ter conseguido conhecer todas, ou quase todas (e são muitas, de verdade!) A capital La Valletta é a cidadezinha mais linda e charmosa da vida, e também tem Mdina, a antiga capital, e onde foi filmado algumas cenas de Game of Thrones (não assisto, mas me disseram e pesquisei, é verdade kkk)
No inicio de Julho, depois de 4 semanas em Malta, vim pra Portugal matar a saudade do mozi, aproveitando o feriado em Malta e alguns dias de folga que eu tinha direito, e como a gente é a gente, fomos dar uma voltinha em Londres de dois dias rs. Na verdade eu tinha comprado o ingresso pro show da Adele que foi cancelado e eu desmoronei quando soube, mas no final foi bom pois tivemos mais tempo pra rodar pela cidade juntos, e também devolveram o dinheiro do ingresso o que foi maravilhoso pra gente haha! A segunda despedida é ainda mais dificil né? Na verdade eu tinha esquecido como dói a saudade, que coisa estúpida! No segundo mês do estágio ficamos 5 semanas longe do outro (o que foi pior, pois foi uma semana a mais do que antes), mas sobrevivemos, deu tudo certo! No final do estágio, eu na verdade já não aguentava mais. O trabalho era realmente chato, mesmo sendo só 6 horas por dia e com uma hora de break. O bom mesmo é que tinhamos leite, café e nesquik de graça todo dia, eu me acabava! No final eu acabei pedindo pra adiantar a data do término pra 1 semana antes do que estava no contrato, e pra minha sorte disseram que não tinha problema, então foi perfeito pois tive uma semana livre pra conhecer o resto de Malta que faltava antes do marido chegar.
No final de Julho e inicio de Agosto o verão em Malta já estava realmente sem dó nem piedade do povo. Faziam 40 graus quase todo dia e a noite a temperatura não diminuia muito! Eu saia do estágio as 22h e não tinha nem uma brisa fresquinha batendo na cara... era surreal! As roupas de frio que levei, trouxe tudo de volta em Julho porque sabia que não ia usar nada daquilo. Na segunda semana de Agosto meu mozi chegou em Malta, eu já tinha terminado o estágio e já tinha rodado Malta de ponta a ponta (o que não é dificil porque apesar do transito, Malta não é nada grande), então obviamente, eu já tinha feito a listinha de lugares que valiam a pena levar ele pra conhecer. Ficamos 4 dias em Malta, ele amou! Alugamos uma moto, o que facilitou bastante a vida na hora do trânsito e de estacionar.
De Malta fomos pra Atenas e Zakintos explorar a Grécia. Foi maravilhoso! Que verão e viagem inesquecíveis! Na volta pra Portugal juntos, ainda tivemos algumas horinhas em Praga, o que fez o marido ficar mega contente por conhecer mais uma cidade da Europa, ainda mais porque eu já conhecia. A volta pra Portugal foi dura. Cair na realidade que a vida boa acabou é complicado, cheguei a ficar doente, tive uma infecção intestinal braba com cinco dias de cama e antibiótico, provavelmente por causa de alguma coisa que comi na Grécia. Mas também foi bom pra adiar um pouco mais o inicio da realidade hahaha. Ter que voltar a trabalhar de verdade pra se sustentar e voltar a rotina e a relidade de ser adulta, casada, e não mais estudante universitária ou estagiária é muito dificil gente!
Uma conclusão de tudo: Valeu a pena! Cada segundo, cada experiência, cada pessoa que conheci, cada hora de estágio querendo que acabasse logo, cada pastizzi de queijo (salgado tradicional e típico de Malta), cada revolta esperando o ônibus em Malta passar! E sempre vale né? Me sinto muito sortuda por ter oportunidades de viver experiências como essas! Conhecer pessoas incríveis como conheci e manter o contato com pessoas maravilhosas que cruzam o nosso caminho por acaso (ou não) e saber que podemos contar com elas, mesmo que não falem a sua língua ou que não morem no seu país, é maravilhoso! Eu amo essa vida internacional ♡
Malta, 2017
A vida adulta longe de casa
Portugal
Não sei se é certo eu ainda dizer que estou ''longe de casa'', porque afinal ''home is where your heart is'' e eu vivo em Portugal com o amor da minha vida, mas enfim...
Crescer não é fácil. Quando somos crianças queremos o tempo todo parecer mais velhos e fazer coisas de gente grande, mas depois que a gente se torna adulto, só pensamos no quanto era bom a vida longe de tantas responsabilidades que nos são atribuídas com o passar do tempo, não é mesmo? Comigo não é diferente, completei 24 anos esse ano mas de vez em quando ainda me sinto com 18. E quem me dera ainda ter 18.
Quando paro pra pensar que já me formei há 2 anos e ainda nem consegui trabalhar em algo na minha área, dói o coração. O tempo está passando rápido demais, sem que eu nem consiga me adaptar a essa transição para a vida adulta. As vezes fico pensando o que eu poderia ter feito de diferente ou o que eu mudaria se pudesse, e se estou onde queria, fazendo o que gostaria... (é o que pressão da sociedade nos causa)
O fato de não poder mais escolher entre trabalhar ou estudar, por ter que pagar as contas e o aluguel, assusta. Muito. O fato de não ter mais o colo da mãe pra chorar quando as coisas não estão indo como queríamos, também dói bastante, e mais ainda quando sua mãe mora do outro lado do oceano atlântico porque você resolveu ser adulta em outro continente. Ver o tempo passar acompanhando a vida da sua família e amigos de longe não é nada legal. Apesar de não ter vontade alguma de voltar para o Brasil, sinto demais a falta das pessoas que cresceram comigo, que compartilharam momentos inesquecíveis comigo, amigas que agora são mães e eu acompanho seus filhos crescendo apenas pelo instagram.
A vida em outro país não é fácil, obviamente. Apesar de eu já estar bem acostumada com a língua e com as pessoas de Portugal, ainda escuto muitos brasileiros dizendo que sofrem preconceitos ou traições de portugueses na hora de arrumar um emprego por aqui, ou até mesmo durante as aulas na universidade. Eu nunca passei por algo do tipo, ou pelo menos nunca percebi que passei. Já trabalhei em algumas fábricas e restaurante, já fiz muitas entrevistas, e sinceramente, trabalho por aqui é algo que não falta, principalmente durante o verão, apesar de serem mais rigorosos, que dizer, se você vem pra cá como turista, não espere que vá ser contratado de um dia pro outro. Eles aqui exigem documento provando a sua legalidade no país em quase todos os estabelecimentos, e os que não exigem, obviamente não te darão um contrato (pelo menos não tão facilmente).
Voltando para a minha experiência por aqui... Comecei a minha vida de casada em Aveiro, arrumei um trabalho numa fábrica de placas electrónicas e fiquei lá por 3 meses até ir para o meu Estágio em Malta, como já contei aqui anteriormente. Quando voltei de Malta regressei a essa mesma fábrica. Eu adorava trabalhar lá, as pessoas eram muito divertidas, fiz amizades incríveis, tinha turnos fixos (o que é raro por aqui) e só trabalhava de segunda a sexta (o que também é bem raro), apesar de ganhar apenas um salário mínimo (o que é normal, e todo mundo vive bem). Mas infelizmente os diretores resolveram alterar todo o sistema da fabrica e eu não me adaptei então me despedi e fui procurar um outro emprego.
Me formei em Relações Internacionais no Porto, e com esse diploma eu posso trabalhar em embaixadas, consulados, multinacionais ou qualquer empresa que tenha um departamento internacional nela, mas pra minha dificuldade, eu moro na cidade de Aveiro, que não é nada grande e não possui nenhum consulado ou embaixada ou multinacional. O que mais tem por aqui são fábricas para trabalhar como operária ou sub-empregos, então eu não tive muita escolha.
Você deve estar se perguntando porque então eu não me mudei para uma cidade grande onde eu tivesse mais oportunidades de empregos na minha área, não é? Poderia ter me mudado para o Porto ou Lisboa, onde tudo acontece. Eu concordo. Mas no meu caso, eram dois empecilhos: não sou rica para pagar um aluguel de quase mil euros na cidade grande e a outra questão é que meu marido não curte cidade grande, pelo fato de possuir mais trânsito, mais estresse, mais pessoas e consequentemente, mais perigo (não em relação a assaltos mas sim a furtos, até de carros). Então permanecemos em Aveiro, que na altura ainda era uma cidade mais em conta (hoje em dia já está tão caro quanto).
Fui então numa agência de empregos (o que tem muito por aqui) e obviamente o que mais tinham de opções eram fábricas. Vi que a fábrica da Renault estava a contratar e me inscrevi, ouvi dizer que eles pagavam muito bem (mais que um salário mínimo, o que é raro por aqui) fiz a entrevista e fiquei esperando uns dois meses para me chamarem e começar a trabalhar. (durante esse tempo trabalhei numa outra fábrica, nada relevante, odiava aquilo, só fiquei os meses enquanto esperava a Renault me chamar). Quando comecei a trabalhar na Renault me encantei, as pessoas eram simpáticas ao extremo, tinha turnos fixos e trabalhava de segunda a sexta. Eu amava, o único problema era que eu acordava as 4h da manhã todos os dias, mas acabei me adaptando.
Mas como nem sempre as coisas funcionam como gostaríamos, a Renault me mandou embora pois o posto onde eu estava a trabalhar deixaria de existir. Me deram então uma outra opção de ir trabalhar pra uma linha de montagem, basicamente sendo um robô humano e eu não aceitei. Queria trabalhar em algo maior, ou pelo menos me sentir útil, e ser um robô não me fazia feliz, aliás, estava me deixando em depressão.
Desisti então de trabalhar em fábricas e me inscrevi em um curso de hotelaria, já que eu não tinha tempo nem dinheiro para fazer um mestrado. Me dediquei em terminá-lo rápido para poder trabalhar em um hotel e finalmente poder trabalhar em algo que eu gosto, falando inglês e tendo contato com pessoas de diversos países. Mas como nada nessa vida adulta é um mar de rosas, ao terminar o curso eu teria de fazer um estágio para adquirir a experiência na prática, mas eu não poderia parar de trabalhar para fazer um estágio que não me pagaria nada, (afinal eu tinha despesas, contas e aluguel a pagar) e no final eu não consegui trabalhar em nenhum hotel pois todos exigiam uma experiência na área da hotelaria e eu tinha apenas na teoria, além disso, em Aveiro não há tantos hotéis assim, logo, meu curso de hotelaria foi então deixado de lado, assim como a minha graduação, e fui mais uma vez a procura de qualquer emprego.
Era inicio do verão, quando as oportunidades de emprego em cafés e restaurantes começaram a surgir em cada esquina e comecei a trabalhar então num restaurante dentro da praça de alimentação de um shopping em Aveiro, fiquei ali tempo o suficiente para ter as mãos ressecadas e as unhas nojentas de tanto lavar louça. Não tinha mais feriados nem finais de semana livres, trabalhava ate meia noite e tinha dias que fazia 10h de trabalho (pelo menos não era em fábrica, trabalhando como um robô).
Para minha sorte e alívio, durante esse período, meus tios, que vieram do Brasil pra viver em Portugal, estavam abrindo um Studio no Porto e me chamaram para trabalhar com eles. Eu amei a ideia e não pensei duas vezes, pois apesar de ser distante de Aveiro, ter de ir e vir de comboio numa viagem de 1h, (como eu fiz durante o periodo da faculdade) eu estaria trabalhando com algo que gosto e que já tive a experiência anteriormente no Brasil. Então assim que eles inauguraram o Studio, eu vim trabalhar com eles na recepção, atendendo telefonemas, respondendo mensagens, fazendo marcações e recebendo pagamentos.
Resumindo, continuo trabalhando fora da área que me formei de Relações Internacionais ou do curso que fiz de Hotelaria, mas agora trabalho com algo que eu gosto, lidando com pessoas diferentes e tendo meus tios como patrões, o que muitas vezes pode ser ruim, misturar família com trabalho, mas no meu caso, está sendo bem melhor do que qualquer outro emprego que tive por aqui. Faço um trabalho que não é cansativo e nem robótico ou monótono, me sinto útil e feliz, e ainda estou numa cidade grande, onde tudo acontece. Quem sabe agora não convenço meu marido de nos mudarmos pra cá?
Conclusão: A vida adulta não é nada fácil, e a transição pra ela é pior ainda, seja no seu país de origem, seja em outro continente, perto ou longe dos seus amigos e família. Muitas vezes não é nem um pouco como sonhamos ou esperamos, quase certo que não vamos ter o emprego dos sonhos e muitas vezes não vamos conseguir trabalhar com aquilo que estudamos, mas se tivermos a mente aberta e formos flexíveis, nos permitiremos viver diversas experiências que nos farão percorrer caminhos diferentes e que nos levarão a tomar decisões que podem mudar nossos destinos. O importante é estar sempre aberto ás opções, não se limitar e não parar na zona de conforto. Buscar sempre o que nos acrescenta e nos faz crescer de forma saudável.
Comissária longe de casa
Praga, Republica Checa
Ser comissária de bordo é algo que toda mulher sonha quando criança, não é mesmo? Mas eu nunca imaginei que isso poderia se tornar realidade na minha vida, morando na Europa, depois de casada e formada em Relações Internacionais. Mas aconteceu!
Eu estava trabalhando no Studio da minha tia como eu contei no post anterior, estava feliz por trabalhar com a minha família e em algo que não fosse exaustivo e estressante. Eu estava fazendo algo que gostava em um ambiente tranquilo e agradável. Mas certo dia, falei com uma amiga que morava na Espanha e ela me contou a novidade de ter sido aceita pela Ryanair para trabalhar como comissária de bordo, e ficaria baseada em Edimburgo, na Escócia. Assim que ela me contou, lembrei do dia em que eu quase me inscrevi para a mesma companhia mas desisti no momento em que vi que não aceitavam tatuagens, e o fato de eu ter nove, me fez desistir de tentar, além disso, pensei que não seria uma boa opção pra mim já que eu estava casada e desejava ter filhos, e imaginar um relaciomento á distância novamente não estava nos meus planos, mas apesar de tudo e após saber da novidade da minha amiga, comecei a me animar novamente e pensar em pelo menos tentar, até porque ela também tinha tatuagens e conseguiu. Então me inscrevi para a entrevista e me chamaram. Quando recebi o email dizendo que tinha sido selecionada para a entrevista, obviamente enlouqueci.
No mesmo dia que recebi o email dizendo que tinha sido aprovada (após a entrevista), já fui notificada que a minha base seria Praga, na República Checa. Não fiquei muito feliz, nem triste, o bom é que seria uma experiência diferente, no meio da Europa, e eu adoro isso, mas as partes ruins eram: a moeda não é euro (e eu receberia em euro), a maioria da população não fala inglês, é longe de Portugal (onde meu marido está trabalhando), sem voos diretos e sem voos baratos para o Porto... ou seja, complicado! Mas como eu sou eu, e me adapto a qualquer situation e graças a God tenho um marido maravilhoso que me apoia, me ajuda e me da forças o tempo todo, tudo fica mais fácil. Afinal, todos nós passamos o tempo todo por dificuldades na vida, mas tudo depende de como você as enfrenta, e tendo alguém que ajuda ao invés de atrapalhar, com certeza faz toda a diferença.
O treinamento durou seis semanas, a empresa nos pagou 140 euros por semana para ajudar na alimentação e transporte enquanto estávamos la, e obviamente também nos pagaram o vôo para o curso e depois para a nossa base. A acomodação nós tivemos que pagar por conta própria, por sorte consegui arrumar um quarto por 600 euros para toda a duração do curso, dividindo com uma italiana que estava no mesmo curso que eu, e por coincidência na mesma turma também, pois haviam outras turmas ao mesmo tempo. O treinamento foi em uma cidade fantasma da Alemanha chamada Hahn, que ficava á uma hora de Frankfurt, uma pequena vila onde tinham vários prédios abandonamos e uma antiga base militar dos EUA. A cidade fedia a mortos e a noite não havia iluminação, não tinha nada para fazer ou para visitar, literalmente uma cidade fantasma rodeada por uma floresta. O bom é que ficava á uma hora de Luxemburgo também, então num final de semana pude ir visitar um outro país.
O treinamento foi bem intenso, na minha turma eram 35 pessoas e no final ficaram 31. Algumas iam desistindo e outras sendo reprovadas ao longo do curso. Tínhamos provas todos os dias, exames com média mínima de 90 por cento, além das provas práticas e físicas, mas foi muito divertido e ótimo para fazer novas amizades, conhecer pessoas de diferentes culturas e línguas, e viver a experiência de dirigir na neve e sobreviver a termeraturas de quase quinze graus negativos. Sim, enquanto estive em Hahn era inverno, e consegui alugar um carro para me locomover melhor até as aulas, e o bom foi que dividi o carro com as meninas que estavam morando na mesma casa que eu, estão ficou baratinho. Não teria sido necessário alugar o carro pela distância, já que estávamos apenas 3km do centro de treinamento, mas por causa da neve e da baixa temperatura, andar sob aquele weather era algo fora de questão. Também tive a oportunidade de receber a visita do meu marido enquanto estive lá, o que foi ótimo para descontrair a tensão e a intensidade do curso e do frio.
Depois que chegamos a Praga, tivemos uma visita a nossa base, onde nos foi apresentado os procedimentos, todo o funcionamento do aeroporto, etc. No dia seguinte começamos a trabalhar como "SNY" o que significa que fomos por quatro dias (doze vôos) como extras crew, para se familiarizar com o ambiente de trabalho, os colegas, e ver a realidade de como tudo funciona na prática. Após esses dias, tive dois dias off pra respirar fundo, racionar o que estava acontecendo e seguir em frente. Trabalhar no avião é algo muito diferente, a real é que de luxo não tem nada! Basicamente passa os vôos a servir cafés e a tentar vender comida (no caso da Ryanair, onde recebemos 10% das vendas que fazemos nos vôos). No meu primeiro dia de trabalho eu estava super nervosa mas por sorte minha tripulação era maravilhosa e super simpáticos, o que me acalmou. Tive colegas que trabalharam com pessoas estúpidas e arrogantes, mas infelizmente, isso pode acontecer em qualquer lugar e com qualquer um.
Já vai fazer um mês que comecei essa nova fase da minha vida, trabalhando como comissária e morando na Republica Checa. Realmente nunca imaginei algo assim pra mim, apesar de sempre sonhar alto! Estou adorando a nova experiência apesar de todas as dificuldades enfrentadas, principalmente a parte da distância do marido. Já apliquei para a transferência de base, mas fui informada que não é fácil de conseguir, principalmente para Portugal ou Espanha, pois por causa do bom clima, todos querem ir pra lá, então tem uma fila enorme de espera. Além disso, meu marido não poderia vir morar comigo em Praga agora, pois além de estar em um emprego muito bom, ele também está esperando pela cidadania Portuguesa, que terá direito a partir de Dezembro de 2019, até lá ele tem que estar vivendo em Portugal (podendo sair apenas por menos de 6 meses para não perder o direito de obtê-la). Mas por enquanto estamos conseguindo visitar um ao outro regularmente. Pelo menos a distância é menor do que Brasil - Portugal, que tivemos que passar quando namorávamos, e superamos! Então agora vai ser mole.
E assim sigo eu, voando, sonhando, me aventurando e sempre encarando novos desafios e experiencias na vida.. afinal, isso que é viver, não é?
Treinamento, 2019
Mais um capítulo encerrado
Bishop's Stortford, Inglaterra
Dezembro de 2019: Três anos que me casei, um ano que recebi a notícia que tinha passado para a próxima fase do recrutamento para realizar um sonho de me tornar comissária de bordo. Ainda lembro como se fosse ontem, a felicidade incontrolável de quando recebi a ligação dizendo que eu iria para a Alemanha durante seis semanas para participar do treinamento da companhia e quando eu concluísse, a minha nova casa seria em Praga, na Republica Checa.
Mas nem tudo são contos de fadas, e ainda bem que não dura pra sempre.
É engraçado olhar para 2019 e ver como se fosse um filme, todas as fases que passei em cada mês em etapas: a felicidade de estar realizando um sonho profissional, a empolgação de estar se acostumando e aprendendo a lidar com os passageiros mau educados e abusados, estar morando em um país diferente, ver o tempo passando e colegas deixando o trabalho, ver novas pessoas chegando e sentindo todo aquele frio na barriga que eu senti nos primeiros meses, ver o salário bosta entrar na conta e tendo que me estrangular para pagar as contas e sobreviver mais um mês sozinha, longe de tudo e todos... Mas sem dúvidas o pior que eu superei foi: A saudade do marido e passar o verão Europeu num país sem praia, longe do mar e viver a primavera e outono numa depressão como se fosse inverno.
Infelizmente (ou felizmente) o meu marido não se mudou comigo. Ele continuou em Portugal e tivemos mais um ano de relacionamento á distância. Parece até que a gente gosta né? Já perdi a conta de quantas vezes tivemos que ficar separados, seja por trabalho ou por estágio, ou viagens, mas enfim, ele conseguiu um trabalho muito bom em Aveiro com contrato efetivo que nos dará a oportunidade de comprarmos a nossa casa futuramente, então não fazia sentido ele sair da onde estava para ir atras de mim, afinal, já havíamos superado distância maior do que Praga - Aveiro (no caso, foi durante o namoro quando ele estava no Brasil e eu em Portugal). Então foi quase um ano assim, eu indo pra Portugal nas minhas folgas/férias e ele indo para Praga durante as folgas/férias dele. Até que foi suportável pois o máximo de tempo que ficamos sem nos ver dessa vez foram cinco semanas.
Como vocês devem saber, a companhia que eu trabalhei foi a Ryanair. Uma companhia low cost, ou seja, de vôos bem baratinhos, porém ela vai fazer você perder muito dinheiro em qualquer oportunidade, por exemplo se não fizer o check in online, se quiser levar mala de mão, se quiser escolher seu assento, se a sua mala estiver acima do peso permitido... E infelizmente, também é assim que ela faz com os funcionários, e isso me deixou desapontada e desanimada demais com o trabalho. É uma das maiores companhias low cost do mundo, com mais de 90 bases espalhadas pela Europa e mais de sei lá quantas rotas diferentes ligando todos os países possíveis do continente, se extendendo até Marrocos, Israel e Jordânia (até agora). Mas como ela ainda não faz vôos internacionais, vou confessar que fiquei um pouco frustada, pois na verdade, vemos esse emprego como uma oportunidade de conhecer outros países e ficar em diferentes hotéis pelo mundo com tudo pago, mas esse não é o caso da Ryanair. Você volta sempre pra sua casa, dorme todas as noites na sua cama, o que é bom pra ter uma vida mais estabilizada, principalmente se for casada, mas bom mesmo seria se você estivesse com seu marido, em seu país e não tivesse que pagar o aluguel de um quarto com quase metade do seu salário, sem contar o transporte pro aeroporto todos os dias, que dependendo do horário, muitas vezes não há ônibus disponíveis e fica assim tendo que pegar um uber ou taxi para chegar a tempo no seu trabalho, ficando muito mais caro o custo de vida a ser mantido.
Eu fiquei oito meses baseada em Praga, durante esse período eu pensei várias vezes em desistir, pedir demissão, chutar o balde... Nos dias de frio e chuva eu me via sozinha com muita dor de tanta saudade do meu marido e nos dias de calor eu me via sofrendo de vontade de ir á praia e mergulhar no mar (lá só tinha piscina em clubes que lotavam quando fazia calor e rios bem sujos que as pessoas entravam pra se refrescar, mas eu não tive coragem). Mas não vou ficar aqui só contando as coisas ruins, também foi bom, posso dizer que foi uma experiência que eu com certeza vou levar pro resto da minha vida e contar pros filhos e netos. Depois de ter morado cinco meses na Polônia quando estava cursando a faculdade, eu morei oito meses em Praga trabalhando como comissária de bordo. Quem mais ai viveu isso?
Eu amava o trabalho, amava o fato de cada dia ser completamente diferente do dia anterior, a base de Praga era uma base pequena, só tinham quatro aeronaves e menos de cem pessoas trabalhando lá. Pra falar a verdade, ninguém ficava ali muito tempo aguentando a pressão desse trabalho, pois realmente não é fácil, e estar longe da sua casa e da sua familia faz muita gente desistir logo no inicio, até porque a maioria das pessoas que entram pra Ryanair, são pessoas bem novinhas, entre 18 e 20 anos, eu me sentia uma velha de 25 no meio da galera que chegava. Por ser uma base pequena, todo mundo se conhecia então isso tornava o trabalho mais fácil e agradável, a maioria das pessoas eram amigas e se davam bem, o problema mesmo era quando você não gostava de alguém, aí tinha que esbarrar com ela frequentemente. Mas o fato de chegar no avião e se sentir em casa, servir o passageiro de uma forma tão natural que nada conseguia te irritar ou abalar, fez eu me apaixonar pela profissão, afinal, é uma profissão linda, não é? Eu estava encantada, passei por muitas turbulências, muitos sustos (graças a Deus nenhuma emergência ou situação médica), muitas pessoas sem noção, mau humoradas, mau educadas, mas também muitas pessoas encantadoras e simpáticas, e superei tudo com a cabeça erguida, até o dia que recebemos a notícia de que a base de Praga iria fechar.
A empresa estava se dividindo em pequenas companhias para desfocar todo o trabalho que uma só sede tinha e dividi-los por suas próprias e independentes sedes, ou seja, a base de Praga deixou de ser ''Ryanair'' e passou a ser ''Buzz'' onde possuiria a sua sede na Polónia, por ser mais perto. E assim eles nos deram duas opções: Assinar os novos contratos e condições de uma empresa terceirizada (que inacreditavelmente eram piores do que o atual), ou negar e contar com a sorte de ser transferido para uma outra base deles se não for mandado embora. Eu ví nessa situação, uma oportunidade de sair de Praga e ir para uma base mais próxima de Portugal, pois isso me facilitaria de ver meu marido com mais frequência, já que de Praga não haviam vôos direto para Portugal, e eu tinha que pegar dois vôos toda vez que ia, o que doía muito no bolso, pois apesar se ser funcionária, o desconto de staff é quase inútil em certas situações, e muitas vezes saía mais barato até comprar o vôo como passageiro normal do que como staff (dependendo é claro, dos destinos e da época).
Eu não assinei o contrato novo da nova companhia e contei com a sorte de me transferirem para uma outra base deles, e foi o que aconteceu. Me transferiram para Stansted, em Londres, na Inglaterra. Eu não podia ter ficado mais feliz! LONDRES.... MINHA CIDADE FAVORITA DO MUNDO! Pra quem não sabe, eu fiz meu intercâmbio em Londres quando tinha 18 anos, e foi lá que eu tive a minha primeira experiência de viajar sozinha, de morar sozinha etc, e a melhor parte era que do aeroporto de Stansted tinham vôos direto para o Porto todos os dias e três vezes por dia. Foi uma notícia maravilhosa e tudo o que eu queria! Mas infelizmente, nem tudo na vida são flores e nem sempre acontece como sonhávamos.
Cheguei em Stansted em Novembro e me assustei, a base era enorme, o aeroporto enorme, demorei dias pra parar de me perder até achar a sala da tripulação toda vez que ia trabalhar, milhões de funcionários que não se cumprimentavam e nem olhavam uns na cara dos outros, vários supervisores mau humorados e de caras fechadas, correria e gritaria braba. Eu não estava acostumada com aquilo, vim de uma base pequena onde só tinha uma supervisora e agora teria 10 ou sei lá quantas. Nessa base tinham mais de mil funcionários e mais de 50 aviões, eu fiquei chocada. Na verdade, não vou ser hipócrita ou me fazer de inocente aqui, pois já tinham me avisado, já tinha ouvido falar o terror que era essa base, mas eu quis arriscar e vir ver com meus próprios olhos, afinal eu estava focada no lado bom (talvez era melhor eu ter ficado quieta em Praga, ou não né, vai saber). O meu primeiro dia de trabalho na nova base foi um standby no aeroporto e a chefe master super ultra pica das galáxias me chamou para conversar e me dar as ''boas vindas'' que de boas não foi nada. A mulher era uma velha grossa e estúpida que se achava melhor do que os outros e gritava com todo mundo e fazia as pessoas chorarem de tanta humilhação, eu fiquei sem reação, eu não estava acreditando na forma que ela estava falando comigo, foi realmente um choque e no meu primeiro dia já saí chorando do aeroporto e ligando pro meu pai pra desabafar. Mas Deus sabe de todas as coisas, e eu sou muito grata por isso, acredito demais que nada nessa vida é por acaso, e tudo o que nos acontece vem por um propósito, por um motivo maior, que talvez nunca saberemos qual. Meus pais e meu marido me tranquilizavam o tempo todo, me diziam que me apoiariam em qualquer decisão que eu tomasse. A real é que essa empresa tirou todo o glamour e amor que eu tinha por esse trabalho! Era um alívio toda vez que eu entrava no avião e um desconforto enorme toda vez que tinha que enfrentar os supervisores e responsáveis daquela base. Mas a minha sorte é que Deus tá no controle de tudo e as coisas aconteceram como eu nem imaginava que aconteceriam:
Antes de eu chegar na minha nova base em Stansted, eu tive um problema médico quando ainda estava em Praga, tive que ir ao hospital retirar o implante anticoncepcional que eu tinha no braço, pois estava doendo demais a ponto de eu nem conseguir movimentar o meu braço, e quando fui pesquisar, a dor indicava que ele poderia estar fora do lugar que deveria ou poderia estar infeccionado, e se esse fosse o caso, poderia ter complicações grandes e o pior seria: eu poderia perder os movimentos do braço. Fiquei desesperada e fui correndo de madrugada para o hospital de Praga e foi um sufoco tentar me comunicar com aquele povo que não fala inglês, pra no final eles me dizerem que não podiam fazer nada sem uma carta ou indicação da minha médica, só que a minha médica estava em Portugal, então não pensei duas vezes, liguei pro trabalho dizendo que iria faltar naquele dia por motivos de saúde e peguei o primeiro vôo disponível para o Porto, cheguei em Portugal de madrugada e fui direto para as urgências, sofrendo de tanta dor, sem conseguir mexer o braço. Removi meu implante e fui pra casa, depois tentei entrar em contato com a Ryanair para explicar o que havia acontecido comigo e pedi também pra eles alteram a minha transferência de base saindo de Portugal, pois já era dia 30 de Outubro e no dia 1 de Novembro eu deveria estar em Stansted, na minha nova base.
Toda essa novela se resumiu na minha demissão. A empresa não compreendeu a minha situação médica, eles focaram no fato que eu havia quebrado uma regra grave da empresa de ter voado como staff em um dia que eu havia faltado o trabalho (completamente ignorando minha situação e o meu atestado médico, que afinal até hoje eles disseram que não receberam, mesmo depois de eu ter os enviado umas dez vezes). Era impossível pra mim comprar um vôo no mesmo dia de Praga pra Portugal, pois estava ficando mais de 300 euros e eu não tinha dinheiro pra isso, e muito menos recebia o suficiente pra bancar esses imprevistos, logo, minha única opção era ir como staff, obviamente! Mesmo depois de explicar toda a minha situação, eles marcaram diversas reuniões comigo enquanto eu já estava em Stansted, e no final eles começaram a apresentar inúmeras desculpas dizendo que eu não fazia vendas o suficiente nos vôos que eu operava (como se isso fosse um motivo para me despedirem, afinal, eles prezam o lucro e não a segurança). Pra quem não sabe, tudo no avião é vendido, o passageiro não tem direito a nada de graça, e se quiser uma água tem que pagar 3 euros por ela. Então se for viajar pela Ryanair e estiver com o budget apertado, leve sua água e sua marmita.
Toda essa experiência de quase um ano me causou muitos (mas muitos mesmo) prejuízos, tanto financeiros como de saúde e obviamente no meu relacionamento. Apesar de estarmos acostumados ao relacionamento á distância, com o tempo ele se cansa e se desgasta, e tem que ter muito amor, apoio e paciência para conseguir passar por tudo o que passamos estando longe um do outro. Além disso, depois que comecei a trabalhar como comissária, passou a ser impossível manter uma vida fitness e saudável, eu comia todas as besteiras possíveis que apareciam na minha frente, realizava refeições fora de hora e academia? Esquece! Minha desculpa era que eu não tinha tempo e nem dinheiro pra pagar por ela. Eu vivia com ansiedade extrema e posso dizer até que talvez um princípio de depressão. O período da TPM era o pior, passava dias na cama chorando sem vontade de sair de casa, nem ver nem falar com ninguém. Toda semana tinha que adaptar o meu sono, alguns dias acordando as 4 da manhã e outros dias indo dormir mais de meia noite.
Não foi fácil, mas eu adorei enquanto durou. Não me arrependo de nada que vivi e talvez viveria tudo de novo, mas felizmente tudo que começa tem que terminar, e posso dizer que realizei um sonho profissional aos 24/25 anos. Eu fui la viver a minha experiência ao invés de escutar a opinião dos outros... Eu sou assim e vou continuar sendo assim, buscando aproveitar as oportunidades que aparecem pelo caminho da vida e vivendo minhas próprias experiências, sem medo do que pode acontecer, construindo minhas memórias e vivendo histórias pra contar, afinal esse é o sentido da vida, não é mesmo?
Comissária, 2019
Resultados de uma quarentena
Casa própria + Gravidez
Como eu contei no ultimo post, voltei a morar em Portugal quando saí da Ryanair e deixei a Inglaterra. Eu já havia comprado uma passagem para ir ao Brasil de férias por duas semanas, para visitar minha familia e amigos que eu já não via ha três anos (Sim, eu já não ia ao Brasil desde quando me casei e vim com meu marido). Como eu saí do trabalho, resolvi extender a minha estadia no Brasil e ficar lá mais um pouquinho já que eu não tinha porque voltar correndo.
Fiquei no Brasil durante um mês exatamente. Foi um período maravilhoso! Visitei São Paulo e Bahia além do Rio. Consegui passar um tempo com a minha familia e minhas amigas que sinto tanta falta. É incrível ver que apesar de eu estar tanto tempo longe, certas amizades continuam fortes apesar da distância e do tempo, mesmo sabendo que cada um seguiu a sua vida por caminhos diferentes com seus filhos e maridos. Fico triste por não ter amigos assim por perto e também por não ter conseguido fazer amizades em Portugal como tenho no Brasil.
Voltei do Brasil no dia 7 de Março de 2020, a infecção do COVID 19 já havia começado, mas ainda estava só na China e tinha começado na Italia. Assim que cheguei em Portugal, comecei a enviar currículos para empresas, agencias e lojas. Cheguei a ir em algumas entrevistas, mas logo na semana seguinte o COVID foi considerado uma pandemia e a quarentena foi instalada, ou seja, tive que ficar em casa e sem trabalho.
Meu marido, que estava morando em um trailer enquanto eu estava fora, o vendeu e fomos morar na casa do meu pai enquanto a escritura do nosso apartamento não saia. Esse é um babado forte que eu acredito que você vai ficar chocado como eu fiquei. Essa história do nosso apartamento é longa e enrolada, mas vou resumir.
Nós estávamos querendo comprar um imóvel ha quase um ano, mas não tínhamos o dinheiro suficiente para dar de entrada, então começamos a ver “tomadas de banco” que são imóveis tomados pelo banco quando o comprador deixa de o conseguir pagar. Dessa forma, ele acaba ficando mais barato e muitas vezes não exigem o valor de entrada. Achamos um que gostamos e fizemos a proposta. A resposta demorou meses pra sair devido toda a toda burocracia (e o fato de eu estar trabalhando fora de Portugal ajudou a atrasar tudo) e já estávamos ficando sem paciência, então começamos a ver outros. Quando saiu a resposta, ele foi aprovado, mas infelizmente o banco não financiou o valor todo então nos exigiu um valor de entrada. Como não tínhamos o suficiente, desistimos daquele e continuamos vendo outros. No final, percebemos que aquele que tínhamos gostado valia muito a pena pela localização, preço e condições do imóvel, então voltamos atrás e fizemos a proposta novamente pedindo inclusive para que eles baixassem o valor. Nessa novela toda, a quarentena já tinha começado, eu já tinha voltado pra Portugal do Brasil e estava sem trabalho, e por incrível que pareça, (e como nada é por acaso) com essa demora toda conseguimos juntar mais um dinheiro, e foi então quando recebemos a resposta mais uma vez, e foi aprovado, com o valor reduzido que havíamos proposto.
Foi uma emoção enorme, a gente não acreditava que afinal, no meio de uma pandemia, iriamos finalmente conseguir comprar o nosso apartamento. Em Abril, assinamos a escritura e pegamos a chave. Tinham algumas coisas pra fazer nele, como pintar e trocar o piso. Chegamos a fazer alguns orçamentos mas como estávamos bem apertados por ter usado nosso dinheiro praticamente todo para dar de entrada, decidimos então fazer o que dava, e fazer nós mesmos. Juntamos a familia e os amigos que estavam por perto e fomos pintar o apartamento. Ficamos muito felizes por ter na nossa vida, pessoas dispostas a nos ajudar sem pensas duas vezes. O período que ficamos na casa do meu pai até o apartamento sair, também foi essencial para que conseguíssemos juntar o dinheiro necessário.
Ainda tivemos que esperar quase um mês para nos mudar, pois estávamos esperando que ligassem a agua, luz e o gas, e devido a quarentena, os serviços estavam bem enrolados e atrasados. Então no mesmo dia que ligaram a agua, nos mudamos. Já havia luz e ficou faltando o gas, que demorou mais uns dois dias, mas não conseguiamos esperar mais. Como foi gostoso finalmente poder mobiliar nossa casa, finalmente ter o nosso cantinho e a nossa privacidade. Antes de termos ficado na casa do meu pai, chegamos a morar em um apartamento alugado, quando eu ainda não tinha ido trabalhar como comissária. Mas obviamente, um apartamento alugado não é nosso e não é a mesma coisa. Quando fui pra Republica Checa, a gente entregou o apartamento e meu marido comprou um trailer para ficar morando nele, pois não queria pagar aluguel.
Nos mudamos definitivamente para a nossa casa no dia 11 de Maio. Exatamente duas semanas depois, começamos a desconfiar que eu estava grávida, pois a minha menstruação estava atrasada e eu estava sentindo umas dores de cabeça e uns enjoos estranhos. Na verdade, eu estava com todos os sintomas normais de uma TPM, então hesitei em fazer o teste porque a minha menstruação nunca foi regulada, então eu não estava acreditando muito que poderia ser uma gravidez. Mas a ansiedade e a dúvida começou a bater mais forte e eu falei pro meu marido comprar o teste depois de alguns dias. Ele deixou comigo no intervalo dele e eu não consegui esperar que ele voltasse pra casa para ver o resultado. DEU POSITIVO. Eu não sabia como reagir, fiquei confusa, fiquei com medo, fiquei feliz. Comecei a chorar, tremer, fiquei toda arrepiada... Liguei pra ele na hora chorando e disse que tinha dado positivo, ele já sabia, alias ele que ficava falando toda hora que eu estava grávida, eu é que não botava muita fé.
Logo depois, liguei pros meus pais, pras minhas avós e tias. Todo mundo ficou muito feliz e emocionado. Mandei mensagem pras minhas amigas e elas foram me ligando conforme foram vendo. Muitas choraram junto comigo, mas eu não aguentava mais chorar! Nós já queríamos um filho, afinal, já estamos casados ha mais de três anos, ja viajamos e aproveitamos bastante a vida juntos, e agora já temos a nossa casa. Mas é muito diferente quando você quer e quando realmente acontece, quando você desconfia e quando você tem a certeza. Demorou semanas pra eu acreditar. A ficha ainda não caiu na verdade. No dia seguinte, eu fui fazer o exame de sangue para poder confirmar, pois eu queria ter a certeza absoluta. Quando contei para as pessoas, pedi para que elas não espalhassem a noticia enquanto eu não tivesse o resultado do exame de sangue, mas não adiantou muito porque tanto meu pai como a minha mãe já foram postar nas redes sociais. (Quem segura uma notícia dessa?)
Quando peguei o exame de sangue, a enfermeira me confirmou que era positivo e que inclusive já estava entre 10-11 semanas. Essa sim foi uma noticia chocante pra mim, pois pelas nossas contas eu estava com 4-5 semanas, e os fatos não batiam com o que ela disse, pois antes da minha terceira menstruação atrasar, eu tinha menstruado duas vezes em 11 semanas. Mas enfim, quando tivemos a confirmação do exame de sangue eu marquei a consulta médica e obviamente não conseguimos segurar a notícia e divulgamos. Foi muita felicidade e carinho recebido. Ficamos muito felizes, mas foi só eu ter a certeza que começaram os enjoos fortes e dores de cabeça insuportáveis. Não sei se é psicológico ou se é porque está mesmo na hora desses sintomas aparecerem. A partir dai, passei meus dias em casa, e a maior parte deles, deitada, vendo série e comendo, até porque descobri, que o meu enjoo vem e fica cada vez mais forte quando eu estou com fome ou com estômago vazio, o que parece ser maravilhoso né? Pois tenho algumas amigas que durante a gravidez, quando comiam, vomitavam. Eu, graças a Deus, ainda não vomitei, mas tento ficar quietinha e não provocar os sintomas ainda mais. Vamos ver até quando isso vai durar.
Brasil, 2020









Gravidez longe de casa
Aveiro, Portugal
O terceiro trimestre chegou trazendo muito sono, muita preguiça, muita fome e muita dor nas costas, sem contar a vontade de fazer xixi a cada cinco minutos. O pior é sair de casa e ter que procurar um banheiro correndo e quando chega lá, sai duas gotas de xixi, e cinco minutos depois você sente que precisa ir de novo. Tem que ter muita paciência pra essa bexiga esmagada, sem contar o estômago, que quanto mais o baby cresce, mais esmagado ele fica, fazendo com que eu me sinta cheia o tempo todo, porém com fome.
Eu descobri o sexo por acaso. Tinha feito um exame de sangue para saber sobre o risco da trissomia 21 no feto que eu estava gerando e no dia 4 de Agosto, com 16 semanas, a médica ao me entregar o resultado do exame de sangue, disse que estava tudo bem e perguntou se eu gostaria de saber o sexo.. COMO DIZER QUE NÃO? E então ela me disse que seria uma menina. Coração disparou. Sinceramente, tanto eu como meu marido queríamos e imaginávamos um menino, mas a emoção foi enorme ao saber que seria uma menina, além disso, já tínhamos um nome decidido para ela e se fosse menino não tínhamos nem ideia, inclusive, estava uma briga feia pra decidir, Deus então resolveu nosso problema e mandou a nossa Emily.
Liguei pro meu marido me buscar no hospital, ele também não imaginava que eu ficaria sabendo o sexo naquele dia, então, ainda por telefone, ele me perguntou se estava tudo bem com os exames que eu tinha ido buscar e eu respondi “pessoalmente a gente conversa”. Obviamente ele ficou tenso e preocupado, quando chegou pra me buscar eu disse logo: “Está tudo bem e é uma menina”. A cara dele foi ilária (eu tinha que ter filmado), o coração dele disparou e ele respirou fundo, ficou emocionado. Como eu disse, ele também torcia por um menino, mas é aquilo... “o que vier ta bom, o importante é ter saúde”.
Começamos a arrumar o quarto dela no meio do segundo trimestre. Compramos uma cômoda, ganhamos um berço, um carrinho com bebê conforto e muitas, muitas, muitas roupinhas. Comecei a separar por tamanhos e por cores. Quando faltava dois meses pra ela nascer eu comecei a lavar e a guardar as roupinhas, tocas, meias, e tudo em seus devidos lugares. Que sensação gostosa que esse momento de preparação e arrumação me proporcionou. Comprei também muita coisa online que foi chegando com o tempo, cada correio era uma emoção. Que ansiedade boa.
32 semanas de gravidez
Relato do meu parto
Hospital de Aveiro, Portugal
No dia 6 de janeiro (com 38 semanas e 2 dias) eu perdi o meu tampão mucoso. Na madrugada do dia 10 pro dia 11 (no dia que completaria 39 semanas) eu comecei a sentir cólicas, achava que era uma dor de barriga e continuava levantando até 3 vezes pra ir fazer xixi e toda vez olhava pra ver se não havia sangue ou qualquer coisa que me avisasse que o trabalho de parto havia começado. Durante o dia, essas cólicas foram ficando cada vez mais fortes e ritimadas.
Minha mãe chegou do Brasil e conseguiu me ver barriguda no último dia de gestação e acompanhou minhas dores de contração cada vez mais fortes. Comecei a marcar o tempo que as dores vinham, no início, de meia em meia hora e fracas. Já tinha lido que o trabalho de parto só começaria quando as contrações estivessem vindo de 5 em 5 minutos no máximo, então eu ainda estava tranquila e passei o dia aproveitando a presença da minha mãe e do meu irmão que eu não via há quase 1 ano. As dores foram ficando mais fortes e quando vinham, eu já não conseguia fazer mais nada, apenas me contorcer e tentar respirar fundo. Fui tomar um banho de banheira com água quente pra relaxar, jantei e comecei a me arrumar pra ir pro hospital.
As 22:30 fui pras urgências do Hospital de Aveiro com contrações de 5 em 5 minutos e as vezes até de 4 em 4. Me levaram de cadeira de rodas pra área da obstetrícia, porque eu mal conseguia andar. Quando fizeram o exame de toque eu estava com apenas 4cm de dilatação e eu já estava sentindo dores insuportáveis, só pensei o quanto ainda faltava pra chegar a 10cm e o quanto eu ainda tinha de sofrer pela frente. Fui encaminhada pro quarto, e por causa da pandemia, tatu não pôde entrar comigo, só quando eu já estava instalada e depois de sair o resultado negativo do teste de COVID.
Me perguntaram se eu ia querer tomar epidural e eu não pensei duas vezes. Disse que sim. Eu sempre quis um parto normal, apesar de já ter feito algumas cirurgias, eu tinha medo da cesária e ao mesmo tempo não queria sentir dor. Depois que eu já estava anestesiada e deitada, tatu entrou no quarto e passou a madrugada toda comigo.
Tive enjoo e vomitei a janta toda que tinha comido antes de ir pro hospital. De vez em quando eu começava a sentir as contrações de novo e avisava a enfermeira. Ela aumentava a dose da epidural para que eu não sentisse dor alguma. Estava tudo bem comigo e com a Emily. Sem pressão alta e com os batimentos ok. Tatu dormiu no cadeirão e eu ia tirando uns cochilos. As vezes minha perna começava a ficar dormente e eu precisava da ajuda dele pra ficar virando de um lado pro outro, pois não sentia nada da cintura pra baixo.
As 6:40 da manhã do dia 12 de janeiro minha bolsa estourou, apesar de estar anestesiada, eu senti uma pressão, como se fosse uma bexiga de ar estourando dentro de mim. Falei pra tatu e quando ele olhou, a cama estava toda molhada como se eu estivesse feito xixi. Chamamos a enfermeira e eu já estava com 9cm de dilatação. Continuava tudo bem comigo e com a Emily, ela já estava na posição e já estava descendo aos pouquinhos, na vontade dela, como eu queria que fosse. Ficamos esperando mais um tempo até que ela começasse a sair por conta própria. Por volta das 8:40h veio a médica e disse que ela já estava com a cabeça apontada pra fora e já se via os cabelos dela. Fiquei emocionada ao ouvir isso, até ela dizer "pode fazer força, vai ser agora" e eu me assustei, pois estava calma e tranquila até aquele momento. Comecei a fazer força sem saber se estava fazendo ou não, devido a anestesia. A enfermeira teve que fazer força na minha barriga pra ajudar ela sair, assim como tatu, que colocou a mão na minha barriga fazendo força em cima de mim e pôde sentir a Emily saindo e a minha barriga esvaziando.
As 8:46h ela nasceu, com 4.170kg e 50cm. Obviamente tive laceração e levei ponto após o nascimento dela, mas eu não senti nada pelo fato de estar anestesiada. Levaram ela para ser limpa, e logo depois a colocaram no meu peito. Naquele momento eu estava sem reação. Uma mistura de medo com orgulho, felicidade e alívio. O fato de ter conseguido ter um parto normal como eu queria, me deixou realizada. Ouvi diversas vezes que por eu ter tido diabete gestacional, ela teria que nascer de cesáriana por causa do tamanho dela. Também tinham me dito que ela não poderia ir até as 40 semanas, por ser perigoso, e caso não viesse antes, o parto teria que ser induzido, e não foi preciso pois ela veio com 39 semanas na vontade dela, saudável, grande, gorda e cabeluda.
Ainda ficamos no quarto com ela por umas duas horas, as enfermeiras saíram e nos deixaram à vontade. Depois tatu teve que ir embora e eu fui pra maternidade com ela. Ficamos 2 dias no hospital e foi o meu primeiro momento sozinha com ela. Tive todo suporte e apoio das enfermeiras. Me foi ensinado como dar banho, como trocar fralda, como amamentar e me passaram todo o cuidado que eu deveria ter antes de ir pra casa. Tivemos alta no dia 14 de Janeiro, tatu e meu irmão foram nos buscar no hospital. Chegamos em casa, fomos recebidas pela minha mãe, toda emocionada, e apartir daí, começou a maternidade real.
Gravidez e parto, 2021
Maternidade real longe de casa
Aveiro, Portugal
Tive muita sorte de ter minha mãe comigo no primeiro mês. Tive muito medo e receio de quando ela fosse embora, porque tatu voltou a trabalhar antes da Emily completar 1 mês, mas por sorte, minhas avós ainda estavam aqui durante o segundo mês, e logo depois, meu pai e minha madrasta também vieram, ou seja, só fui ficar sozinha com a Emily em casa sem ajuda nenhuma 3 meses depois dela nascer.
A maternidade é cansativa, é exaustiva. Mesmo com toda ajuda que tive, nos primeiros meses eu fiquei noites sem dormir. Chorei várias vezes de sono, de fome, de cansaço, e apesar de ter estado rodeada de pessoas pra me ajudar, eu ainda me sentia muito sozinha. Fiquei emotiva e sensível demais. Senti muita falta de tatu, mesmo ele estando ali do meu lado todos os dias, e pra piorar, depois de 15 dias que ela nasceu, comecei a tomar a pilula amentação, o que mexeu mais ainda com meus hormonios, trazendo minha menstruação e mais sentimentos incontroláveis.
Assadura: Nos primeiros dias de vida da Emily, eu comecei a usar lenço umidecido pra limpar ela toda vez que trocava a fralda, e percebi então que isso estava a deixando assada. No hospital já haviam me aconselhado a usar compresa de algodão molhado, mas como eu havia ganhado uma caixa de lenço umidecido, resolvi ignorar o que havia sido me ensinado e quebrei a cara. A pele do bebê recém nascido é sensivel demais e ela ficou logo assada. Tentei trocar de pomada para ver se melhorava e não adiantou. A enfermeira receitou pasta d’agua e foi assim que a assadura foi melhorando. Parei logo de usar os lenços umedecidos e segui finalmente o que haviam me informado ainda na maternidade, e ela nunca mais ficou assada sendo limpa com algodão umido ao inves do lenço.
Bronquiolite: Quando Emily estava com apenas 19 dias de vida, ela começou a ficar muito congestionada, e com dificuldade pra respirar. Comecei a fazer nebulização nela e colocar soro no nariz, mas mesmo assim ela tinha umas tosses fortes e se engasgava com frequencia, além disso, não estava dormindo nem mamando direito, então resolvi levar ela nas urgências do hospital e a internaram depois de confirmar que ela estava com VSR e bronquiolite. Me foi dito que era normal esse tipo de virus no inverno, por causa das temperaturas baixas e dos resfriados dos adultos que acabam passando pros bebês.
Fiquei 11 dias internada com ela tendo que ser aspirada com sonda pois ela ainda não tinha forças o suficiente para colocar o catarro pra fora sozinha, e além disso estava respirando com ajuda de oxigênio devido a tanta secreção que dificultava a respiração. Foram dias muito difíceis, dias que não dormi e chorava junto com ela toda vez que ela tinha que ser aspirada, também passava muito susto toda vez que ela engasgava e tossia sem parar. No 11° ela teve alta e voltamos pra casa, eu cheia de medo e receio. Não queria ter que passar por essa situação nunca mais.
Alergia: Com um pouco mais de um mês, ela começou a apresentar algumas alergias na pele, além de assaduras nas dobrinhas (que sempre teve muita, por ser uma gorducha). Passei óleo de amêndoa que havia sido me recomendado por ela ter a pele muito seca, mas parecia que estava cada vez pior. O rosto dela começou a criar casquinhas e o corpo ficou cheio de bolinhas vermelhas e eu percebi que estava coçando, pois ela estava irritada e tentava se esfregar.
Mais uma vez, fui eu com ela para as urgências e descobrimos afinal que ela tinha dermatite atópica e teve que começar a usar shampoo e creme específico para a pele atópica (que não são nem um pouco baratos), e em relação as dobrinhas assadas, principalmente no pescoço e nas axilas, tive que começar a ter mais atenção, enxugar bem e passar o creme para hidratar essas áreas. Depois que comecei a usar o shampoo e o creme específico, a pele dela melhorou 100 por cento e comecei a ter mais cuidado com os ursos de pelúcia que ela tinha ganhado, além das roupas de lã, a poeira pela casa, os tapetes, etc
Cólica: Emily também teve muita cólica no inicio. Eu cortei todos os alimentos que poderiam causar gases da minha alimentação e mesmo assim ela se contorcia e chorava de dor antes de soltar gases. Minha mãe trouxe Fuchicória do Brasil e eu colocava na chupeta dela, percebi que dava um alívio, além disso, a enfermeira receitou “Biogaia” um remédio para cólica que também não era nada barato. Com o tempo parece que a cólica foi melhorando, mas eu continuei evitado os alimentos que poderiam causa-la.
Amamentação: No hospital, quando ela nasceu, meu leite demorou MUITO pra sair. Quando saiu o colostro, parecia que ela não estava satisfeita NUNCA. Ela ficava horas sugando meu peito, e ele começou a ficar sensivel, a sangrar, a rachar e eu comecei a sentir MUITA dor ainda na maternidade antes de ir pra casa. As enfermeiras deram suplemento pra ela na mamadeira e só assim ela ficava satisfeita e dormia, esse era o momento que eu conseguia descansar o meu peito. Fiquei passando Lanolin o tempo todo e já estava passando antes mesmo dela nascer, achando que poderia ajudar quando chegasse a hora de amamentar, também peguei sol no mamilo e de vez em quando esfregava com toalha ou esponja, como me foi dito pra fazer, mas nada disso me poupou da dor surreal que senti no inicio da amamentação. Depois que viemos pra casa, meu leite começou a descer de verdade e então comecei a me sentir uma verdadeira vaca leiteira. O leite começou a vazar, o peito começou a ficar cheio e eu comecei a ter que tirar leite quando ela ficava muito tempo sem mamar, o que raramente acontece, pois desde que ela nasceu, ela mama praticamente de 2 em 2 horas. Comprei seis pares de absorbente reutilizável para colocar no peito, achei mais prático e mais barato do que o descartável. Também comprei k bico de silicone para aliviar o meu bico de vez em quando. Depois de mais ou menos duas semanas, a dor passou e eu comecei a conseguir amamentar tranquilamente.
Não pense que passei por tudo isso plena e segura, pelo contrário. Eu senti (e sinto até hoje) culpa em tudo o que acontece com ela, além de muita insegurança e um sentimento de incapacidade de ser mãe. Cheguei a ligar pra minha mãe chorando dizendo o quanto estava sendo difícil a maternidade e ela me dizia que ia passar, pra eu ficar tranquila e aproveitar até os momentos difíceis. Com o tempo fui ficando mais tranquila e mais segura, conhecendo minha bebê e aprendendo todos os dias. Não é facil, mas a gente segue tentando, errando e aprendendo.
Aos poucos fui perdendo o medo de dar banho e de trocar fralda, com o tempo já estava confiante e com menos insegurança. Mas é isso, a gente não nasce sendo mãe, a gente se torna mãe a partir do momento em que nosso filho depende da gente pra sobreviver. É uma mistura de cançaso e exaustão com amor e felicidade. Sempre que passo por dias difíceis com ela, tento me lembrar que é apenas uma fase, que ela vai crescer e que daqui a pouco não será mais um bebê tão frágil e dependente de mim.
Primeiro mês da Emily
Segunda gravidez longe de casa
Aveiro, Portugal
Sim! Tô grávida de novo e não, não estava tentando e nem esperando. Sempre dissermos que queríamos sim ter mais filhos mas não imaginávamos que seria assim tão rápido. Comecei a tomar o anticoncepcional um mês depois que a Emily nasceu, mas como sempre e mais uma vez, não me dei bem com essa bomda de hormônios que colocamos pra dentro do nosso corpo. O anticoncepcional sempre mexeu muito comigo negativamente. Além de toda a dificuldade do puerpério, da nova vida sendo mãe e toda a adaptação necessária, tinha que lidar com as dores de cabeça, queda de cabelo, falta de libido, cançaso e mais inumeros efeitos colaterais causados pela pirula, então decidi parar de tomar menos de dois meses depois de ter começado.
Tudo começou com uns enjoos matinais estranhos e umas cólicas diferentes. Não suspeitei da menstruação atrasada já que nunca tive ela regulada. Emily estava com 9 meses, na creche, eu tentanto voltar a trabalhar e em processo de desmame. Eu e Tatu raramente tínhamos nossos momentos juntos e sozinhos já que ele sai cedo de casa pra trabalhar e Emily dorme com a gente na cama. Comecei então a suspeitar de problema na vesícula já que ao pesquisar, descobri que os sintomas principais eram enjos e cólicas. Fui a uma consulta com a médica de família e mencionei o que estava sentindo, já dizendo que achava que era a vesícula, e a primeira coisa que ela sugeriu foi fazer um teste de gravidez depois de eubter dito que não estava tomando nenhum anticoncepcional. Eu pensei "Ok! não vai dar positivo, mas já que é de graça eu faço." Uma segunda gravidez em menos de um ano da primeira realmente NUNCA passou pela minha cabeça. A idéia era eu voltar ao mercado de trabalho antes do segundo filho, ter Emily na creche sem mamar e sem usar fralda.
No dia 13 de Outubro de 2021 fui fazer o exame de urina de gravidez e no dia seguinte recebi o resultado pelo celular: POSITIVO. Eu tinha acabado de acordar, estava com a Emily na cama e meu marido trabalhando. Eu comecei a tremer e a chorar, fiquei com aquela cara de choque sem saber o que fazer, sem acreditar. Fiquei dando zoom no resultado, conferindo meus dados, pra confirmar se tava tudo certo mesmo, se realmente aquele era o meu resultado. Sem muita reação e pasma, liguei pro meu marido e falei que tinha dado positivo. Ele começou a comemorar e falar "QUE MANEIRO! QUE IRADO!" E eu fiquei perguntando se ele tinha entendido direito o que eu tinha acabado de falar. Lembrei logo de tudo o que eu passei durante a gravidez da Emily: Enjoo forte e frequente, vômitos duas e as vezes até três vezes por dia mesmo tomando remédio pra enjoo, diabete gestacional, anemia e a necessidade de tomar ferro na veia… e cada vez mais eu entrava em desespero ao pensar que teria que passar por tudo isso novamente e agora tendo uma bebê pra cuidar ao mesmo tempo, então logo conclui: "Obvio que ele está animado e feliz, não é ele que vai sofrer e passar por tudo isso de novo". Ele tentou me acalmar dizendo que ia ser ótimo, que iam crescer juntos, que íamos enfrentar dificuldades sim mas que depois ia valer a pena e isso foi me tranquilizando. Depois que desliguei a chamada, abracei a Emily com força, ela obviamente sem entender nada ficava me olhando com aquela carinha angelical de quem acabou de acordar enquanto eu tinha os olhos vermelhos e o rosto inchado de tanto chorar.
Mas afinal e graças a Deus, toda minha preocupação daquele momento desapareceu com o passar das semanas quando a gravidez foi evoluindo e nenhum enjoo se manifestou. Eu literalmente esqueço várias vezes que estou grávida. Estamos curtindo tanto cada desenvolvimento e descobrimento da Emily, super empolgados com ela começando a andar, começando a interagir e reagir, querendo falar e se comunicar... Que fase gostosa e linda! Por um lado, está sendo bom o fato de "esquecer" que estou grávida, porque sou uma pessoa muito ansiosa e a gravidez é pra quem tem paciência, mas por outro lado, as vezes paro e penso que está passando muito rápido e não estou conseguindo tempo pra registrar o crescimento da barriga, como fiz na gravidez da Emily.
Ganhamos muitas coisas e roupas das amigas da Emily, além de tudo o que vai ser passado de uma pra outra também, porque sim, será outra menina! Obviamente o papai estava doido por um menino (desde a primeira gestação), eu já estava no tanto faz, já que estou acostumada a ser mãe de menina, seria menos um problema, além disso, sempre tive uma lista de nomes de menina que queria, já de menino, sempre foi uma briga por eu gostar de nomes que não eram aprovados pelo papai, e pensando também em tudo o que poderemos aproveitar de uma pra outra: será menos custo, menos gastos. A única coisa que teríamos que comprar, seria o carrinho com o bebê conforto já que havíamos vendido o da Emily, e encontramos um duplo super em conta que me apaixonei e compramos usado pelo marketplace do facebook em ótimo estado, e valeu super a pena! Em relação a diabete gestacional: Estava na esperança de não voltar, mas quando fiz o exame de sangue já foi dado o resultado no limite. Os médicos disseram que pelo resultado ainda não era considerado uma diabete mas que com o meu histórico e com o progresso da gestação, aquele valor iria aumentar e era certo eu ter a diabete gestacional novamente no segundo ou terceiro trimestre. Nunca gostei de dietas e nunca consegui cumprir muito também, na gravidez da Emily tive MUITA fome e MUITA vontade de comer besteiras que não podia. Nessa gravidez, GRAÇAS A DEUS, não estou tendo tanta fome e nem tanta vontade de comer coisas que não devo, o que já é menos mal. Agora estou desejando mais salgados, enquanto na gestação da Emily eu era completamente necessitada de doces, mas me passaram do mesmo jeito uma dieta e um remédio para tentar manter os valores da glicose baixos. Vamos ver até quando fico sem precisar aplicar a insulina na barriga, afinal, é normal que no terceiro trimestre fique tudo mais intenso e dificil de controlar.
As dores nas costas começaram na 25° semana, mas também, com a barriga crescendo e tendo que carregar Emily de 10kg no colo o tempo todo, não tem coluna que aguente né?! Estou fazendo todo o pré natal no hospital publico de Aveiro, assim como foi anteriormente. Não tenho queixas, gosto do serviço e do atendimento no geral, afinal, não estou pagando nada por toda atenção e dedicação dos profissionais de saúde que na sua maioria são super atenciosos, e isso não tem preço. Cada vez mais sou grata por ter a oportunidade de poder ter filhas e criá-las num país Europeu que apesar do clima (que é a única coisa que realmente me incomoda), tenho toda assistência de saúde pública funcionando como deve ser, sem contar a educação, porque não devo ter mencionado nos posts anteriores, mas Emily está na creche e também não pagamos nada por isso pelo fato de eu não estar trabalhando. É aquilo: pagamos impostos sim, mas temos e vemos o retorno, e é isso que faz valer a pena viver "longe de casa".
35 semanas de gravidez
Relato do meu segundo parto
Hospital de Aveiro, Portugal
No dia 10 de maio de 2022, com 37 semanas e 3 dias, meu tampão mucoso começou a sair. Dado a minha experiência anterior, eu ainda teria mais uma semana para que o trabalho de parto iniciasse, porém, nessa mesma madrugada eu comecei a sentir contrações, fracas ainda, uma verdadeira cólica com dor de barriga facilmente confundida com vontade de fazer cocô. Como só tinha vindo a noite, nem me preocupei em cronometra-las.
Na manhã do dia 11 estive bem, a tarde comecei a sentir umas dores leves e a noite algumas mais fortes. A barriga começou a ficar cada vez mais rígida e pesada, senti como se ela estivesse descendo, e sempre muito cançaso, falta de ar e fraqueza. Eu só queria ficar deitada o dia todo, estava sem forças pra nada.
No dia 12 estava um bom tempo, era feriado em Aveiro e Emily não foi pra creche. Fomos de manhã num parquinho próximo de casa e lá eu comecei a sentir mais contrações. Como eu ainda não tinha completado 38 semanas de gestação, eu imaginei que pudesse ser apenas contração de treinamento, já que eu estava sentindo essas dores ainda com tempo muito espaçado e fracas. Começamos a planejar em ir a praia, ou fazer pic-nic, mas acabamos indo para casa almoçar e depois fomos para a casa de uns amigos. Lá, enquanto eu comia e conversava, comecei a sentir um liquido saindo da minha vagina como se eu estivesse fazendo xixi sem vontade, na hora eu pensei alto “ou minha bolsa estourou ou eu fiz xixi na calça”. Como nessa altura do campeonato já era normal ter esses escapes de xixi por conta da bexiga esmagada, eu não me preocupei muito. Fui ao banheiro e o líquido estava um pouco amarelo, por isso não tive dúvidas que era xixi. Depois disso comecei a ficar bem cansada e me deitei na cama enquanto as crianças brincavam e os adultos conversavam. Eu só queria ficar quieta deitada descansando, e nesse momento comecei a sentir mais dores, mais contrações e cada vez mais próximas umas das outras, então comecei a cronometrar. 15 minutos, 10 minutos, 5 minutos….. Os espaçamentos entre as contrações foram diminuindo muito rápido e as dores foram ficando cada vez mais fortes num espaço de tempo muito curto, e isso foi me deixando tensa e preocupada e cheia de sentimentos misturados. Eu não estava preparada psicologicamente pra parir, apesar de já ter tudo pronto em casa, na minha cabeça ainda faltava 1 semana pelo menos, já que Emily nasceu com 39 semanas, assim eu estava imaginando que seria com a Aurora.
Derrepente, enquanto estava deitada, senti uma dor, uma explosão dentro de mim, como se tivessem me dado um tiro, ou jogado uma pedra com estilingue no meu útero. Na hora eu pensei “caraca, minha bolsa estourou!” mas não senti nenhum líquido descendo, nem sangue nem nada, porém, nesse meio tempo em que chamei meu marido pra irmos embora por estar sentindo dor, as contrações começaram a vir com menos de 5 minutos e quando vinham eu já não conseguia respirar, nem me mexer, nem pensar em nada, só me contorcer e achar que ia morrer de dor. O caminho pro carro foi eterno, tendo que parar no meio da rua varias vezes pra esperar a dor passar até conseguir andar de novo. A viagem da casa dos nossos amigos até a nossa casa foi mais eterno ainda, tendo que decidir se ia direto pro hospital ou se passava em casa antes pra pegar os documentos e a mala pra maternidade.
Resolvi ir em casa antes, tomei banho, peguei minhas coisas e me preparei pra ir pro hospital. O banho que era pra ser rápido, demorou meia hora. Fiquei de baixo da água quente tentando relaxar e só desejando uma epidural toda vez que vinha uma contração. A vontade era de deitar no chão e não levantar mais. Sai do banho e me deitei na cama sem conseguir levantar, sem conseguir me mexer nem me vestir. Chamei meu marido pra me ajudar, coloquei uma roupa e fomos pro hospital. No caminho, liguei pra minha tia avisando que estava indo parir e pedindo pra ela ficar com a Emily pro meu marido poder ir assistir ao parto.
Cheguei no hospital as 19:30h sem conseguir andar. Me colocaram na cadeira de rodas e me levaram pra área da obstetrícia. Quando fizeram o exame de toque eu já estava com 5cm de dilatação e as dores já vinham com menos de 4, 3 e as vezes até 2 minutos entre elas. Pedi pra ir ao banheiro achando que queria fazer cocô mas fiquei ali empacada no vaso com as médicas mandando eu me apressar pra ir logo pro quarto. Eu já não conseguia nem raciocinar. Tirei a roupa, pus a bata, sentei na cadeira de rodas e me levaram pro quarto. Perguntaram se eu queria tomar epidural e eu sem pensar respondi logo “sim pelo amor de Deus!!!” O alívio de parar de sentir aquela dor mortal é maravilhoso. Toda vez que vinha a contração eu sonhava e desejava a epidural e quando a me deram eu comecei a respirar e a raciocinar de novo.
Meu marido não pôde entrar junto comigo. Ele me deixou na porta do hospital e foi levar Emily na casa da minha tia, enquanto eu estava sendo internada e anestesiada. Quando fizeram o exame de toque outra vez depois de aplicarem a epidural, eu já estava com 8cm de dilatação em pouco mais de 1h depois de ter chegado ali, ou seja, estava evoluindo muito rápido. Liguei pra ele mandando ele vir logo porque faltava pouco tempo pra nascer. Quando ele chegou eu já estava tranquila, sem dores, deitada, relaxada, esperando a hora certa chegar pra começar a fazer força, meia hora depois fizeram outra vez o exame de toque e a cabeça dela ja estava ali pronta pra sair, até perguntaram se eu queria sentir, quando pus o dedo senti uma cabeça cheia de cabelo. Que nervoso, que emoção, que doideira. Foi então que disseram que eu poderia começar a fazer força e assim eu fiz. Como eu estava anestesiada, não estava muito ciente se estava ou não fazendo força, então as enfermeiras me orientaram e me “ensinaram” uma forma melhor pra fazer a força corretamente e me deixaram super a vontade para ficar na posição que eu achasse melhor. Eu estava deitada na cama, abri as pernas, segurei meus joelhos e comecei a fazer força outra vez. Senti a cabeça dela saindo de mim e a enfermeira ajudando a passar. Logo depois sinto todo o corpo dela a descer e junto uma poça de sangue e liquido aminiótico a molhar tudo. Como assim?! Já foi?! Já nasceu?! Já saiu?!
Exatamente as 22h do dia 12 de Maio de 2022 nasceu a Aurora, com 4,142kg e 53,5cm e 37 semanas e 5 dias. O parto normal mais rápido que eu já vi, e o mais fácil que as enfermeiras já presenciaram. Não parei de ouvir elogios e maravilhas sobre a facilidade e a rapidez que foi o nascimento da Aurora. Me senti tão orgulhosa de mim, tão forte, tão foda! Que orgulho do meu corpo, que orgulho de ter conseguido ter mais um parto normal sem complicações, sem receio, sem problemas. Tive uma laceração de primeiro grau, a recuperação foi ridicula. Eu já me sentia uma nova mulher, pronta pra próxima.
Assim que ela nasceu, a puseram no meu peito, e logo depois tentei fazer com que ela mamasse, e aí começou a complicação, mas isso vai ficar pro próximo post, específico pra contar sobre o primeiro mês da Aurora, o problema com a amamentação, ganho de peso, etc.
Nascimento da Aurora, 2022
3 meses internada
Hospital de Aveiro e Coimbra
Assim que Aurora nasceu, as enfermeiras perceberam que havia algo de errado. Ela nasceu muito gordinha devido a minha diabete gestacional (até ai ok, até porque Emily também) e muito molinha, não tinha muitas reações, demorou para chorar, não pegou no peito de jeito nenhum e começou a suar frio. Quando foram medir a glicemia, ela estava com hipoglicemia (baixo açucar no sangue). Isso é normal para bebês cujo as mães têm diabete gestacional com valores descontrolados de açucar e uso de insulina durante o periodo da gravidez. Tentaram fazer com que ela pegasse a mamadeira e nada, então a deram leite pela seringa e só assim o glicemia foi regularizando. Detalhe que meu leite não havia descido ainda pois não houve estímulo, então lhe deram leite de formula. Obviamente eu e meu marido ficamos super preocupados mas com a melhora dela graudal, fomos nos tranquilizando.
Meu marido teve de ir embora (ele não podia ir para o quarto comigo, apenas tinha permissão para assistir ao parto devido ao COVID) e foi eu e Aurora para o internamento. Como ela nasceu a noite, na primeira madrugada ela dormiu o tempo todo, achei estranho porque quando Emily nasceu ela ficou agarrada no meu peito nas primeiras horas. Aurora não demonstrava sinais de fome, não chorava para mamar e não puxava o bico quando eu colocava o peito na boca dela, aí vi que tinha algo errado. Apesar dela ter nascido antes das 38 semanas (37s 5d), ela não era considerada uma pre matura, mas demonstrou todas as atitudes de uma.
Como ela não estimulava meu peito, o leite não descia, então tiveram que continuar a dar leite de formula pra ela e eu tive que ir para as bombas de extrair leite para poder estimular a descida dele. Foi doloroso, foi tenso, eu achei que não fosse ter leite. Disseram que a dificuldade era pelo fato de eu ter protese mamária, porém com a Emily não tive esse problema. Passou pela minha cabeça um arrependimento de ter parado de amamentar a Emily, pois agora não estaria passando por isso. O que mais doía não era o fato dela não mamar, e sim o sentimento de frustação e incapacidade de alimentá-la.
Como ela também não puxava o leite através da mamadeira, foram lhe dando pela seringa nas primeiras horas. Na manhã seguinte viram que ela não estava com reações fisicas, continuava muito molinha, sem força muscular e sem sinais de fome, então ela foi transferida para a UCIN (Unidade de Cuidados Intensivos Neonatal).
48 horas após o nascimento dela eu tive alta, mas ela não. Nessas primeiras horas eu foquei em estimular o meu peito para conseguir prosuzir leite, e foram quase que 2 dias inteiros indo a bomba de extração de 3 em 3 horas sem sair nada até finalmente começar a sair o colostro. Quase chorei de alivio e felicidade ao ver as primeiras gotinhas saindo do meu peito. Eu ia conseguir amamentar minha. filha! Obrigada Deus.
Enquanto ela estava na UCIN, eu não podia permanecer lá o dia inteiro, apenas ir de 3 em 3h para amamenta-la e trocar a fralda, e de manhã para dar banho. Então eu fui para casa, já que tive alta, e fui matar a saudade da Emily, que pela primeira vez desde que nasceu ficamos longe por 3 dias. Meu coração estava apertado, eu estava em pedaços por deixar uma filha no hospital e outra em casa, sem poder estar presente para as duas ao mesmo tempo. Como doeu.
Aurora ficou 11 dias na UCIN, até ter alta e ir para casa. Mas esses dias não foram fáceis. Apesar de eu ter conseguido extrair leite, ela não mamava o suficiente no peito, não pegava mamadeira, dormia a maior parte do tempo, continuava sem demonstrar grandes sinais de fome, e o pior: não granhava peso. Apesar de eu ir de 3 em 3h ao hospital para amamentar (graças a Deus eu não morava tão longe), vimos que a melhor opção seria que eu ficasse por ali 24hrs com ela pra ver se com o contato comigo ela sentiria mais o cheiro do leite e o calor do meu peito e florescesse a vontade de mamar, então fiquei 2 noites no hospital durante o final de semana (quando meu marido estava em casa para ficar com a Emily) para fazermos esse teste, porém não obtemos muita melhora, e além disso, eu não estava conseguindo extrair a quantidade de leite que os médicos diziam que era necessária para ela (baseado no peso e dias de vida) então foi colocado uma sonda nasogástrica no narizinho dela para que conseguíssemos alimentá-la com a quantidade que diziam que ela precisava receber para ganhar o peso que estava perdendo, porém surgiu mais um “problema”: ela começou a vomitar constantemente.
Durante esses dias em que ela esteve internada, foram feitos diversos exames de sangue, parecia estar tudo bem, também foi notado que ela tinha a pele mais amarelada (Ictericia) e teve de realizar o tratamento de fototerapia (com as luzes fluorescentes), apesar de ser algo comum em 80% dos recém nascidos, a maioria das vezes ocorre em bebes pre-maturos. Foi a primeira vez que eu chorei, ao ver minha bebê sem roupa (apenas de fralda), com uns óculos para proteger os olhos das luzes por 24 horas. Que agonia vê-la passar por aquilo. Automaticamente comecei a me culpar, desde os primeiros momentos de vida dela aqui fora. Me culpar por não ter me cuidado mais durante a gravidez, me culpar por não ter controlado melhor a diabete, me culpar por não ter levado a sério os riscos que corre uma grávida, enfim… a maternidade vem com o sentimento de culpa junto, sempre.
Aurora era pesada todos os dias de manhã antes do banho, nos primeiros dias, ela perdeu bastante peso, o que é normal, porém não começou a recuperar quando era suposto, e essa foi uma das preocupações dos médicos. Ela era vista todos os dias pelos pediatras e ninguém conseguia perceber qual era realmente o problema dela já que todos os exames que ela fazia estavam bem. A questão dela ter começado a vomitar após as mamadas foi concluido que ela estava a ingerir mais leite do que suportava, porém ao diminuirem a dose, ela não ganhava peso. Foram dias agoniantes, até que um dia ela não perdeu peso e no dia seguinte ganhou algumas poucas gramas e foi nesse dia em que a deram alta.
Aurora foi para casa um dia antes do meu aniversário. A minha felicidade em poder comemorar em casa com minhas duas filhas foi indescritível. Eu estava muito feliz. Compramos um bolinho e cantamos parabéns em casa com a familia. na semana seguinte iniciaram as consultas semanais da Aurora no centro de saúde, com a enfermeira e a médica de familia, para podermos acompanhar o ganho de peso dela, e não foi como esperávamos. Na primeira consulta, 3 dias após ela ter saído do hopital, Aurora havia perdido peso, então fomos encaminhadas para uma enfermeira especialista em amamentação para ver se ajudava. O problema já não era mais a produção de leite, pois a partir do momento que Emily percebeu que eu voltei a ter leite, ela voltou a mamar e fez todo o estímulo necessário para a produção, que Aurora não fazia, então eu estava literalmente igual a uma vaca leiteira, porém Aurora nunca esvaziava nem um peito. Ela continuava sem grande interesse em se alimentar.
No inicio achávamos que era devido a má pega (forma errada de segurar e sugar o peito com a boca), depois foi notado que ela possuia o freio da lingua curto, o que muitas vezes dificulta que o bebe tenha uma mamada eficaz, porém todos os médicos que analizaram, concluíram que não era esse o fato que a atrapalhava, parecia mais uma “preguiça” do que uma dificuldade por parte dela.
Aurora não ficava nem 5 minutos no peito e já se cansava e dormia logo, como se sentisse satisfeita, porém nunca mamava a quantidade necessaria para ganhar o peso que deveria, e durante as madrugadas não acordava para mamar, fazia muitas vezes 12hrs seguidas dormindo, sem mamar, sem acordar, sem chorar, sem demonstrar sinais de fome. Eu tinha que extrair o leite e tentar dar pela mamadeira ou pela seringa durante a madrugada, mas quase nunca dava certo.
Após algumas consultas no centro de saúde sem o ganho necessário de peso para uma recém nascida e na ultima consulta uma perda sugnificativa, no dia 9 de junho de 2022, 18 dias após ter tido alta, ela foi encaminhada mais uma vez para o hospital e internada com “má progressão ponderal”.
Foram exatamente 5 semanas de internamento no Hospital de Aveiro sendo acompanhada por pediatras, neurologistas, terapeutas da fala, e mais sei lá quantos médicos, fazendo diversos exames diariamente, sem qualquer diagnóstigo encontrado. Nesse período, meu marido voltou a trabalhar, e eu passei a ficar a semana inteira no hospital e ir para casa apenas no final de semana, quando ele ia pro hospital trocar comigo para que eu pudesse ficar um pouco com a Emily. Tivemos a total dedicação das enfermeiras maravilhosas, pacientes e simpáticas do internamento pediátrico, depois de tantos dias lá eu já estava amiga delas, conversando sobre a vida e fofocando, foi a melhor distração que eu poderia ter.
Todos os dias meu marido levava a Emily até o hospital depois da creche para que eu pudesse estar 1 hora do dia com ela. No inicio ela não aceitou bem, começou a me ignorar e a me “maltratar” demonstrando frustação e irritação por eu ter “abandonado” ela e todos os dias chorava quando era a hora de se despedir, e eu chorava mais ainda. Como doeu ficar longe dela tantos dias, tantas noites, tantas horas. Meu Deus! Nem sei como suportei.
Na 6a semana de internamento da Aurora, sem qualquer melhora nas mamadas, ganho de peso, acompanhamento de terapeutas da fala, vômitos frequentes com o leite pela sonda e milhões de exames e tentativas de diversos tipos de leite e diversas formas diferentes para amamenta-la, foi concluído que ali os médicos já haviam tentado de tudo e não tinham mais o que fazer, então ela foi transferida para o Hospital Pediatrico de Coimbra, onde disseram que lá eles possuiam mais recursos para acompanhar e diagnosticar o caso da Aurora. No dia 14 de Julho de 2022, dois meses e dois dias após o nascimento dela, lá fomos nós para Coimbra, para longe de casa, da Emily e do papai.
Em Coimbra não foi muito diferente. Aurora continuou com o leite pela sonda, continuou vomitando, continuou dormindo a noite toda sem acordar com fome, porém tiveram mais alguns médicos especialistas como de gastro, de genértica e de neuro a acompanhar o caso dela de perto.
Começaram então a diminiur a quantidade de leite administrado pela sonda para ver se ela parava de vomitar, e assim aconteceu. Optaram então por remover a sonda para ver se ela começava a sentir fome, e mamava melhor sem, e assim aconteceu. Ela aos poucos foi começando a acordar durante as madrugadas e mamar um pouco no peito.
Parece que após Aurora ter completado dois meses de vida, ela começou aos poucos a “acordar para a vida” e começou a perceber finalmente que já estava fora do útero e que afinal para se alimentar deveria fazer algum esforço, já que não ficava mais alimentada automaticamente. Ela realmente teve todas as atidudes de uma bebe prematura, mesmo não tendo sido considerada uma.
Fizeram diversos exames como ressonancias e ecografias tanto do coração, como na cabeça e no estômago e não encontraram nada de errado com ela. Os exames de sangue estavam sempre tudo bem, então chegaram a conclusão que ela realmente foi uma bebe que nasceu grande e gorda devido a diabete gestacional descontrolada (e mal cuidada) que eu tive, porém não era uma bebe com grande apetite, os vômitos eram causados pelo excesso de leite que davam pela sonda, a falta de apetite e sinais de fome concluiram que talvez fosse por ela nunca ter sido deixada sentir fome, já que de 3 em 3 horas colocacam leite pela sonda antes mesmo dela pedir ou querer.
Com o tempo ela foi começando a mamar mais no peito, a procurar, a demonstrar sinais de fome e a ganhar peso apenas com o peito, largando a sonda e odiando a mamadeira (que dificuldade era dar leite pela mamadeira para ela, parecia tortura). Foram exatamente 3 semanas internadas no Hopital Pediátrico de Coimbra até concluirem que afinal Aurora estava bem e só precisava de tempo para desenvolver na hora e no ritmo dela. No dia 4 de Agosto de 2022 fomos finalmente para casa. Meu Deus, que alívio! Eu não parava de agradecer pela vida das minhas filhas e apesar da angustia de não ter obtido um diagnostico, a felicidade em saber que ela era saudável e sem problemas detectados era maior.
Quando Aurora completou 3 meses, no dia 12 de Agosto, fizemos um mega churrasco para reunir toda a familia e amigos que estiveram preocupados e orando pela nossa Aurorinha. Foi tão bom receber o carinho de todos que temos por perto e saber que estamos rodeados de pessoas que se importam.
Durante esses meses de internamento, ouvi que Aurora tinha sido amaldiçoada no meu ventre. Seja lá quem tenha sido, foi repeendido em nome de Jesus. Hoje ela mama MUITO bem, começou a ir pra creche, começou a mamar na mamadeira, começou a introdução alimentar, ganha peso bem para se manter na curva, é saudável e MUITO linda. Sou apaixonada pela minha princesa Aurora. Obrigada a todos que fizeram parte dessa fase tão dificil e de alguma forma conseguiram me ajudar, me animar e me dar forças sejam com mensagens, ligaçōes, preocupações… É muito bom saber que não estamos sozinhos.
11 semanas de Internamento
De volta ao mercado de trabalho
Depois de mais de 3 anos sem trabalhar devido a pandemia e mais as duas gravidezes, os dois pós partos e a maternidade, eu comecei a procurar emprego. Durante o período em que estive em casa, tentava sempre fazer cursos online e cheguei a procurar até alguns part time para fazer, porém, esperei Aurorinha completar 1 ano para que eu voltasse a estar fora de casa.
Eu não estava decidida, na verdade tinha muito medo de voltar a trabalhar pelo fato de não estar mais disponível para as meninas a qualquer momento, até porque, elas já iam para a creche mas eu as deixada apenas meio periodo para conseguir fazer as coisas em casa, os cursos online, ir treinar etc.. mas qualquer coisa que acontecia ou quando ficavam doentes, ou quando eu queria ficar mais tempo com elas, era tranquilo, porém chegou uma hora em que eu já estava com vergonha de não estar trabalhando, e vamos combinar… o trabalho em casa é cansativo demais. Eu estava sempre estressada e sem paciência, mas enfim...
Meu marido graças a Deus sempre correu muito atrás para que não nos faltasse nada, fez muitas horas extras e chegou a trabalhar em dois empregos para que eu pudesse conseguir ficar esse tempo em casa disponivel.
Em maio de 2023 a Aurora completou 1 ano e em Julho eu finalmente comecei a trabalhar outra vez. Um amigo me enviou um anúncio que tinha visto no facebook de um hotel que estava a procura de rececionista, me animei demais e enviei o currículo já me imaginando trabalhando ali, afinal eu já tinha formação como rececionista de hotel, falava inglês e espanhol e já tinha feito um estágio como rececionista no Hotel Melia, ou seja, não tinha como essa vaga não ser minha.
A gerente me respondeu ao e-mail, marcamos uma entrevista, fui, e no mesmo dia e na mesma hora da entrevista ela perguntou quando eu poderia começar! Fiquei tão feliz, agradeci tanto a Deus. Eu tinha muito medo de ter que voltar a trabalhar em fábrica ou restaurante pelas más experiencias que tive. O que foi mais legal, foi que eu lembro de passar em frente a esse hotel quando ia trabalhar na fabrica e sempre me imaginava trabalhando ali.
Comecei a trabalhar numa quinta-feira as 8h00 da manhã. Foi brabo, foi puxado. Começar uma nova rotina com as meninas não foi nada facil, mas eu estava muito feliz e animada em finalmente poder contribuir financeiramente em casa, e ter uma responsabilidade além da casa, filhas, e marido.
Eu amava trabalhar no hotel, me adaptei muito fácil ás tarefas, ao sistema e procedimentos, amava atender os clientes, amava fazer check in e check out, os colegas de trabalho eram top, a gerente era maravilhosa, eu estava realizada profissionalmente. Depois do trabalho como comissária, ser rececionista de hotel foi o meu emprego favorito. Sim, ganhava apenas um salário minimo, sim, trabalhava feriados, finais de semana e em turnos rotativos, alguns dias até meia noite, sem receber hora extra nem nada a mais por isso. Infelizmente, o mercado de turismo em Portugal é muito mal pago, porém, eu estava feliz demais. Só Deus sabe o quanto eu tinha pedido para estar ali.
Como a vida não é um mar de rosas, as primeiras dificuldades começaram a aparecer… Primeiro com as meninas doentes e eu precisando faltar trabalho pra levá-las ao hospital ou até mesmo ficar com elas em casa de baixa médica, depois os finais de semana e os feriados fora de casa começaram a me afetar, não só de uma forma emocional por não estar com a familia, mas também na questão financeira, pois quando meu marido fazia horas extras no trabalho dele, ou trabalhava finais de semana, ele ganhava o dobro por isso, e eu não ganhava nada a mais, ou seja, estávamos a perder, pois ele tinha que ficar em casa com as meninas para que eu pudesse trabalhar, e cá pra nós… que pai aguenta duas meninas com 1 e 2 anos sozinho por tanto tempo? hahaha Foi punk!
Então comecei a tentar arrumar algumas formas de amenizar essa situação tendo de uma certa forma o meu horário fixo e não trabalhando todos os finais de semana. Por um tempo, deu certo. Mas obviamente depois as outras colegas começaram a não gostar do fato de eu acabar por ter alguma regalia a mais que elas, em questão a horários, e obvio, não estavam erradas. Pra piorar a situação, meu marido começou a fazer curso para ser bombeiro voluntário, e as aulas dele eram a noite e aos finais de semana, ou seja, meu horário no trabalho ficou ainda mais limitado, e obviamente, apesar da gerente compreender e tentar me ajudar MUITO, ninguém gostou. Eu com essas limitações de dias e horários, não conseguia trabalhar num hotel, nem em nenhum lugar na área de turismo, que era o que eu tanto queria.
Depois comecei a me culpar e a sentir falta das meninas, chorava por não estar com elas antes de dormir, e nos finais de semana e feriados pra mim eram os piores, ia sempre trabalhar chorando por saber que elas estavam em casa e eu não estava com elas. Pensava sempre no fato de que agora elas são pequenas e precisam de mim, é o momento que eu tenho que estar mais disponível pra elas, pois depois que crescerem não vão mais querer saber de mim e aí eu vou poder trabalhar com o que eu quiser.
Passado quase um ano trabalhando no Hotel, eu comecei a orar e a pedir muito a Deus que me desse uma orientação, que me desse sabedoria para tomar decisões, porque eu não queria sair do hotel mas também não aguentava mais estar tão indisponível para minha familia.
Em Junho de 2023, antes de comecar a trabalhar no hotel, eu me batizei. Fui criada na igreja desde pequena mas nunca tinha me batizado e também haviam muitos anos que eu não frequentava a igreja. Eu comecei a frenquentar no inicio do ano, e a levar as meninas pra escolinha, apresentamos a Aurora (a Emily foi apresentada no Brasil), me batizei e logo depois comecei a trabalhar. Foram muitas bençãos seguidas. Então nesse periodo de indecisão, eu após orações, fui a uma clinica de depilação a laser e a menina que me atendeu perguntou se eu não conhecia ninguém que estava a procura para trabalhar ali. Eu perguntei as condições e ela me disse que era de segunda a sexta e com horario fixo. Eu nem acreditei quando ela falou! Era tudo o que eu queria e tinha pedido a Deus. E por incrível que pareça, eu já fazia depilação em outro lugar e só fui ali porque naquele mês, onde eu fazia, não ia ter. Deus é bom demais ne?!
Eu enviei o curriculo e no mesmo dia o responsável agendou uma entrevista por video chamada e no dia seguinte tive a entrevista. Expliquei a minha situação, que já trabalhava, mas que estava a procura de algo com melhores condições para minha familia, e fui contratada, uma semana depois comecei a formação.
Não foi fácil sair do hotel e me despedir do pessoal, eu tive o meu último almoço com eles e também organizei um jantar de despedida. Na hora de contar a chefe, eu quase chorei. Amava o trabalho e estava muito feliz trabalhando ali, mas eu acredito que nada é por acaso, e Deus tem um plano para tudo.
Trabalhar no hotel foi uma experiencia maravilhosa que vou levar comigo. E a vida é feita de fases, algumas boas e outras nem tanto. Nosso objetivo deve ser aproveitar cada uma delas, e a real é que nunca haverá um emprego perfeito. Nunca estaremos cem por cento satisfeitos com tudo. Pode ser um chefe escroto, ou colegas de trabalho complicados, salário ruim ou horários piores ainda, ou até mesmo o próprio trabalho em si ser horrivel, como foi a fabrica pra mim. A questão é focarmos nas nossas prioridades.
Hoje, trabalho na area da estética, onde nunca me imaginei um dia, mas tenho mais tempo para a minha familia, consigo treinar, estou finais de semana em casa e tenho um horário fixo, ou seja, consigo ter uma rotina, o que é primordial para quem tem criança pequena, além disso, consigo me focar na minha saúde, pois já não sou tão focada, e a falta de rotina piora.
Fiquei com diabetes depois de duas gravidezes com diabete gestacional, então a alimentação saudável e o exercício fisico agora são indispensáveis na minha vida. No hotel tinha restaurante, e quando fui trabalhar lá, acabei chutando o balde. Não conseguia treinar devido ao turno rotativo e não me alimentava bem devido a comida do restaurante não ser nada saudavel (porém gostosa/e gorgurosa demais, e eu comia sem limites bem a loka).
Enfim, mais uma fase, mais uma experiência. Deus é perfeito e eu acredito nos planos dele pra minha vida. Só desejo que Ele continue abençoando a minha familia e nos dando saúde. A vida é maravilhosa e colecionar momentos e sermos gratos a cada instante é o que faz valer a pena viver nessa loucura linda que é a vida.